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terça-feira, 25 de maio de 2021

Crianças migrantes relatam condições desumanas em centros de detenção dos EUA

Os mais de 20 mil menores migrantes detidos nos campos de fronteira dos EUA passam frio, fome e vivem condições desumanas, concluiu uma reportagem da BBC publicada nesta segunda (24).

Ariany, de dez anos, passou 22 dias detida depois de sair de Honduras e atravessar a fronteira sozinha no início do ano. Ela ficou no campo de Donna, no Texas – uma das estruturas mais precárias e superlotadas do país.

No final de março, imagens divulgadas pelo CBP (Alfândega e Proteção de Fronteiras) mostraram que a instalação, projetada para acomodar 250 pessoas, abrigava mais de 4 mil no pico de ocupação.

Crianças migrantes relatam condições desumanas em centros de asilo dos EUA
Menores detidos nos centros de migração dos EUA, março de 2021 (Foto: Reprodução/CBP)

A menina relata que passou dias em um cubículo de plástico junto de outras crianças, bebês e adolescentes. O único abrigo era um cobertor de emergência. “Não tínhamos onde dormir, então dividíamos esteiras. Éramos cinco meninas em duas esteiras”, relatou. Ariany encontrou a mãe, Sonia, no final de março.

Calcula-se que cerca de 36 mil crianças entraram nos EUA desacompanhadas entre março e abril – o número mais alto dos últimos anos. Boa parte dos menores viaja sozinha na esperança se encontrar os pais que já estão nos EUA. Pelo menos 80% já têm familiares no país, apontou Washington.

‘Geladeira’

As crianças já esperam as condições que lhes aguardam ao atravessar a fronteira. Entre eles, os centros de detenção gerenciados pelo governo norte-americano são chamados de “geladeira” devido ao frio e ao tamanhos das instalações. Pelo menos 13 áreas como essa foram construídas em 2020. São mais de 200 centros distribuídos em 22 estados.

Cindy, uma migrante de 16 anos, também sitiada em Donna, relatou que dividiu seu cubículo com 80 meninas. A maioria dos menores estava molhada sob os cobertores, devido ao gotejamento dos canos. “Todos os dias acordávamos encharcados”, disse.

Assim como Cindy, Paola relata que recebeu comida vencida, estragada e mal cozida. “Algumas meninas desmaiavam”, lembrou Jennifer, de 17 anos. Segundo ela, muitas só tomam banho uma vez por semana, e outras ficam semanas sem realizar higiene básica. Piolhos são comuns.

Nos cubículos, os mais velhos tentam ajudar os mais novos, que choram com medo de nunca mais sair dali. “Eu tentava confortá-los, mas também tinha dúvidas se poderia sair. Durante vários dias, ninguém pediu o contato ou o endereço da minha mãe”, relatou Paola.

Crianças migrantes relatam condições desumanas em centros de asilo dos EUA
Famílias de diversos países latinos aguardam resolução dos EUA sobre pedidos de asilo no estádio Jesús Martínez, na Cidade do México, em novembro de 2018 (Foto: Unicef/Luis Kelly)

A crise migratória nos EUA

O aumento da migração de menores desacompanhados nos EUA está ligado às políticas de Joe Biden, no poder desde janeiro. O presidente permitiu que crianças entrassem no país enquanto suas reivindicações eram processadas.

Assim que assumiu o cargo, Biden também suspendeu o programa de protocolos de proteção ao migrante, sancionado por Donald Trump. A medida exigia que migrantes aguardassem a liberação do visto no México enquanto seus casos eram julgados pela imigração dos EUA.

O democrata ainda criou uma força-tarefa para reunir famílias divididas durante a chamada política de “tolerância zero” de Trump e interrompeu a construção do muro na fronteira com o México. Ao mesmo tempo, investiu em uma campanha de propaganda na América Central e do Sul para desestimular a migração.

Milhões de cidadãos da América Latina têm nos EUA a esperança de melhores condições de vida em meio à pobreza, à violência e à devastação econômica deixadas pela Covid-19 e pelos furacões no continente. Em sua maioria, os menores são adolescentes da Guatemala, de Honduras e de El Salvador.

As crianças são enviados por parentes sozinhos ou por contrabandistas que cobram milhares de dólares pela travessia. Também há casos de famílias que acompanham as crianças até a fronteira e as enviam sozinhas para aumentar a chance de entrada nos EUA.

Questionado, o Departamento de Saúde norte-americano afirmou que as crianças migrantes recebem um ambiente seguro e saudável. “Há acesso a alimentos nutritivos, roupas limpas, camas confortáveis, educação, atividades recreativas e serviços médicos”, disse o órgão à BBC.

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