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sábado, 22 de maio de 2021

Influência chinesa na Zâmbia beira neocolonialismo, aponta documentário

O interesse da China na África é antigo. Vem desde os anos 1960, quando Mao Tsé-Tung estreitou relações com proeminentes líderes africanos que lutavam contra o domínio estrangeiro. Mais de 60 anos se passaram, e hoje nenhum país tem laços mais firmes com os chineses que a Zâmbia, uma relação que beira o neocolonialismo. Atualmente, a pequena nação africana possui uma dívida externa na casa dos US$ 12 bilhões. A maioria com a China.

No documentário “Zambia: Under Chinese influence” (Zâmbia: sob a influência chinesa, em tradução livre), lançado em março, os repórteres da France24 Nicolas Germain, Roméo Langlois e Yi Song investigam o funcionamento das empresas locais, as melhorias e os investimentos chineses no país africano.

A obra explora a falta de clareza nas relações do governo local com a China e a expansão de investimentos chineses no território.

Influência chinesa na Zâmbia beira neocolonialismo, aponta documentário
O ministro de Finanças da Zâmbia, Bwalya Ng’andu, em pronunciamento sobre a dívida externa do país, na capital Lusaka, em novembro de 2018 (Foto: Bank of Zambia)

No último ano, devido à pandemia de coronavírus, a Zâmbia quase chegou à falência e se tornou o primeiro Estado africano a dar calote em sua dívida, que ultrapassa US$ 42 milhões. Mesmo com um empréstimo extra, a pequena nação ao Sul da África não conseguiu cumprir com seu compromisso.

Os laços entre Beijing e Lusaka são fortes e existem há décadas. De acordo com o documentário, os asiáticos injetaram mais dinheiro na nação africana no ano passado. Com isso, a China possui um terço da dívida nacional da Zâmbia. São investimentos nos setores de mineração, indústria e agricultura. 

Em termos práticos, os chineses controlam a economia zambiana devido à alta dependência financeira do país em relação aos asiáticos. A falta de clareza no que tange a projetos e investimentos dos asiáticos no país, também gera preocupação.

Andford Banda, oposicionista ao governo e candidato à presidência, afirma que os acordos entre o governo e os chineses não são transparentes. “Há investimentos em saúde e infraestrutura e isso é bom. O problema é que muitos desses investimentos, além de superfaturados, não são claros. Não sabemos quanto da Zâmbia pertence à China. Mesmo que o valor da dívida externa seja divulgado, não sabemos qual o real valor das transações aqui dentro”, afirma. 

Influência chinesa na Zâmbia beira neocolonialismo, aponta documentário
Trecho do documentário Zambia: Under chinese influence, 2021. Foto: Reprodução

Trabalho e emprego

Apesar de a Zâmbia ter 17 milhões de habitantes, as taxas de trabalho e emprego são baixas, abrindo assim maior oportunidades para ambos. “Já moro aqui há mais de dez anos. Não penso em voltar para a China”, disse um criador de porcos chinês no documentário. “Quando chegamos aqui, oferecemos empregos, muitos deles deram graças ao deus deles porque estamos aqui”. 

Por outro lado, alguns relatam a falta de segurança no trabalho e a maior carga-horária de trabalho. “Já conversamos e reclamamos sobre a nossa segurança, mas ninguém nos dá ouvidos. A lei diz que devemos trabalhar 8h todos os dias. Porém, ficamos aqui às vezes por mais de 12h e não recebemos nada a mais por isso”, disse um trabalhador de uma mina.

Baixa competitividade

Mesmo que os cidadãos tenham acesso a produtos mais baratos, a competitividade entre os produtores locais e os chineses beira o dumping, que consiste em vender produtos abaixo do custo de produção para eliminar a concorrência.

“Os frangos chineses são vendidos antes do tempo ideal. Eles os alimentam com remédio para crescimento. Essa produção faz com que as aves sejam mais baratas. Os nossos demoram a crescer, mas são mais saudáveis, sem químicos”, desabafou uma zambiana vendedora de aves em uma feira livre. Nós não conseguimos vender mais barato porque tem um custo maior. Não dá para competir com os chineses”.

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