Enquanto não se tem confirmação oficial da morte do líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, uma gravação de áudio em que o próprio líder denuncia “traição” dentro do grupo viralizou na Nigéria.
“Fomos enganados com a conivência de pessoas de dentro do nosso grupo, mesmo após um juramento de sua crença na nossa luta”, teria dito Shekau na gravação de pouco mais de dois minutos acessada pela agência turca Anadolu.
“Aliados em que quem confiávamos nos enganaram”, reafirmou no idioma hauçá. “Eles mataram e feriram vários de nosso povo”.
O porta-voz do exército nigeriano, Muhammad Yerima, afirmou que a inteligência militar estuda a legitimidade do relato e sua possível relação com a suposta morte de Shekau, sem dar detalhes.
Informações ainda não confirmadas pelas autoridades nigerianas apontam que o líder do Boko Haram teria morrido na última quarta (19), em meio um confronto contra jihadistas do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental) na floresta de Sambisa, ao nordeste da Nigéria.
Relatórios, fontes e conversas de comandantes militares aos quais teve acesso o “Wall Street Journal”, na sexta (21), falam na morte do combatente. “Shekau detonou uma bomba e se matou”, disse um militar nigeriano. A informação, porém, carece de confirmação oficial, vez que, em ao menos outras três ocasiões, a morte dele foi anunciada de maneira equivocada pelo exército nigeriano.
Formado por dissidentes do Boko Haram, o ISWAP se separou de Shekau em 2016 e, desde então, se concentra em alvos militares e ataques de alto perfil – inclusive contra trabalhadores humanitários. Os grupos disputam o controle do estado de Borno, ao nordeste da Nigéria.
Suposta morte acelera violência
A provável morte, ou mesmo o exílio de Shekau, tende a intensificar a violência na região. Conforme análise do “The Guardian”, a derrota do líder jihadista deve elevar o poder do ISWAP – grupo tão ou mais perigoso que o Boko Haram.
Sua proximidade com o EI atrai a organização terrorista para o nordeste da Nigéria e Lago Chade. Enquanto isso, as deficiências do exército e a fragilidade no governo de Muhammadu Buhari, imerso em acusações de corrupção, atrasam o combate efetivo ao terror.
Só em abril, mais de 300 pessoas foram mortas no nordeste do país, conforme a Anistia Internacional. No primeiro semestre de 2020, foram 1,1 mil. A precariedade econômica é outro fator de aceleração da violência.
Jovens sem perspectiva acabam entrando nos grupos jihadistas como uma forma de sustento, ao mesmo tempo em que crescem os sequestros por resgate. Desde dezembro, o país registrou seis sequestros em massa de crianças em idade escolar e estudantes universitários.
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