O governo da República Tcheca já expulsou mais de 70 diplomatas russos desde abril, quando relatórios apontaram a relação de Moscou com um incêndio criminoso na região de Vrbertice, em 2014. Os últimos representantes de Moscou expulsos do país tinham até esta segunda (31) para deixar Praga, reportou a RFE (Radio Free Europe).
Além de deteriorar a relação entre os dois antigos aliados soviéticos, as expulsões também são um golpe à maior missão estrangeira na República Tcheca, apontou Aleksandr Morozov, jornalista e pesquisador da universidade tcheca Charles. A diplomacia era a principal porta de entrada de espiões russos em Praga.
Segundo ele, Moscou não esperava que Praga realizasse uma nova rodada de expulsões de 63 diplomatas, na última semana. “O centro russo em Praga está destruído”, disse à RFE. “Esta é uma grande perda para Moscou e levará anos para criar tal centro de inteligência sob cobertura diplomática em qualquer outro país europeu”.
Ainda que a Rússia responda às expulsões na mesma moeda, como já fez no mês passado, a tendência é que as forças de inteligência russas acelerem ataques cibernéticos para restaurar a influência perdida em toda a Europa.
“Fiquemos atentos a instituições governamentais, forças armadas e empresas de energia”, disse o ex-vice-diretor de contraespionagem tcheca, Jan Padourek. A Agência Nacional de Segurança Cibernética de Praga já havia alertado para a possibilidade em 20 de abril “no front doméstico e internacional”.
Ainda assim, seria errado pensar que a espionagem russa na República Tcheca acabará, acrescentou Padourek. Segundo ele, os serviços de inteligência operam não apenas em missões diplomáticas, mas através de jornalistas, empresários e estudantes.
“A rede da Rússia [na República Tcheca] inclui altos funcionários do governo tcheco e uma rede mais ampla de Estados da UE [União Europeia], incluindo o círculo interno da chanceler [alemã] Angela Merkel“, disse o empresário russo exilado Mikhail Khodorkovsky.
A escalada da crise
O primeiro-ministro tcheco Andrej Babis expulsou 18 diplomatas russos em 17 de abril, pouco depois de anunciar a participação do GRU (Departamento Central de Inteligência da Rússia) na explosão de um depósito de munição que matou duas pessoas em Vrbetice, na região de Zlin, em 2014.
Segundo Babis, os dois supostos agentes russos acusados de atacar o ex-oficial de inteligência russo Sergei Skripal, na Inglaterra, em 2018, estavam à frente da operação. Eles foram descobertos ao agendar visitas ao depósito com identidades falsas poucos dias antes da primeira explosão.
Outros seis agentes têm relação com o ataque, apontou o site de jornalismo investigativo Bellingcat. Eles eram liderados pelo general Andrei Averyanov – o que demonstra a importância da operação para o Kremlin.
As armas no depósito seriam para o comerciante de armas búlgaro Emilian Gebrev – alvo de duas tentativas de envenenamento anteriores. Em resposta, a Rússia negou a ação e incluiu a República Tcheca na lista oficial de Estados hostis, até então ocupada somente pelos EUA.
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