Os chamados pepinos-do-mar, espécie cada vez mais rara em todo o mundo, entrou no alvo da “máfia dos frutos do mar” na cadeia de ilhas localizada entre a Índia e o Sri Lanka. Um levantamento do portal norte-americano Big Think aponta que o número de delitos envolvendo esses animais cresceu de oito, em 2015, para 58, em 2020.
Espécies raras semelhantes a lesmas e sanguessugas, os pepinos-do-mar chegam a medir cerca de dois metros de comprimento e podem custar até US$ 3,5 mil o quilo – o equivalente a R$ 18 mil.
Seu valor é um chamarisco para a pesca ilegal, que não poupa nem mesmo as espécies de águas mais profundas. Um estudo do Instituto de Pesquisa de Pesca Marinha de Kochi, na Índia, aponta que as espécies em águas rasas já foram exauridas, e mergulhadores se arriscam em profundidades cada vez maiores.
A maioria não possui equipamento ou treinamento adequados, o que já fez com que pelo menos 40 mergulhadores morressem tentando colher pepinos-do-mar.
Impasse jurídico
A abordagem jurídica sobre a questão difere na Índia e no Sri Lanka, tornando o terreno fértil para a máfia de frutos do mar. Em 2001, Nova Délhi proibiu o comércio e exportação da iguaria, que, desde então, desfruta do mesmo nível de proteção de leões e tigres no país.
O Sri Lanka, por outro lado, manteve a pesca de pepinos-do-mar legal, apesar de exigir licenças para evitar a exploração excessiva. Mas esse movimento nem sempre é respeitado. No lado sul e leste, campos desses animais já entraram em colapso, enquanto os mares ao norte da ilha veem a espécie reduzir dia após dia.
A discrepância nos mercados próximos oferece um lucro promissor aos criminosos. É difícil precisar se os animais são capturados na Índia ou no Sri Lanka. E os frutos do mar podem ser vendidos legalmente como se fossem singaleses – algo semelhante à lavagem de dinheiro.
A Índia criou uma força-tarefa para apreender contrabandistas de pepinos-do-mar. Nos primeiros meses, as autoridades recuperaram mais de 880 quilos de 1.716 animais. Se vendidos, o lucro poderia chegar a US$ 580 mil.
O que são pepinos-do-mar
Parentes das estrelas do mar, os pepinos-do-mar ajudam a reciclar os resíduos, transformando-os em nutrientes – o que ajuda a desacelerar a acidificação dos oceanos. Mas eles estão cada vez mais raros. Há séculos, seu uso como iguaria culinária e ingrediente medicinal é comum sobretudo na China e no sudeste da Ásia.
A medicina oriental afirma que esses animais combatem a artrite, impotência sexual, câncer e micção frequente. Seu uso se espalhou, então, para óleos, tinturas e cosméticos. Desde os anos 1980, quando seu uso se popularizou, a incidência da espécie caiu 60%. Assim, passou a figurar entre as espécies ameaçadas de extinção.
Só que o número de países exportadores de pepinos-do-mar só cresceu: se em 1996 apenas 35 países exportavam os pepinos-do-mar, em 2011 foram 83. Enquanto isso, a população desses animais caiu 95% entre 2012 e 2014 – em grande parte devido à pesca excessiva.
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