“O recrutamento de prisioneiros pela empresa militar privada Wagner parou completamente”. A afirmação foi feita na quinta-feira (9) por Evgeny Prigozhin, importante aliado do presidente russo Vladimir Putin e chefe da organização de mercenários que tem papel central na guerra em curso na Ucrânia. As informações são da agência Reuters.
Ao anunciar o fim do recrutamento, Prigozhin afirmou que o Wagner Group “está cumprindo todas as nossas obrigações para com aqueles que trabalham para nós agora”. A promessa feita aos criminosos é a de que teriam seus crimes perdoados em troca de seis meses de serviço militar no campo de batalhas na Ucrânia.
O anúncio de que o processo foi encerrado contraria uma afirmação recente do próprio chefe do grupo. Em dezembro do ano passado, Vyacheslav Vegner, um parlamentar russo, propôs que não apenas os homens, mas também as mulheres russas que cumprem pena, tivessem a possibilidade de trocar a sentença pelo serviço militar
Prigozhin aprovou a ideia e afirmou que a convocação de presidiárias seria uma questão de igualdade de gênero. Ele respondeu ao político dizendo que as russas têm condições de servir às forças armadas “não apenas como enfermeiras e sinalizadoras, mas também em grupos de sabotagem e duplas de atiradoras”.
Embora a organização paramilitar não tenha informado quantos presos recrutou, o sistema pena russo divulgou um balanço em novembro de 2022 indicando que a população carcerária no país teve uma redução de 20 mil pessoas entre agosto e novembro, justamente no início do processo de alistamento. Em janeiro deste ano, então, esse declínio parou.
Já uma estimativa da inteligência norte-americana aponta que o Wagner Group tem cerca de 40 mil combatentes ativos na Ucrânia. A organização vem adquirindo um papel cada vez maior no conflito, colocando em segundo plano inclusive a atuação das forças armadas de Moscou.
Recentemente, os mercenários reivindicaram os créditos pela tomada de Soledar, uma cidade estratégica ucraniana abundante em riquezas naturais na região de Donetsk, parcialmente ocupada pelas forças da Rússia. Prigozhin usou o feito do seu grupo de mercenários para desacreditar o exército russo, mas Putin rejeitou as alegações e afirmou que apenas as forças russas contribuíram para a conquista.
Execuções sumárias
No caso do recrutamento de presos, Prigozhin teria sido responsável pessoalmente por ir aos presídios oferecer anistia em troca de serviço militar. Em setembro do ano passado, um vídeo compartilhado através do aplicativo de mensagens Telegram pela equipe do oposicionista russo Alexei Navalny mostra um indivíduo que se parece fisicamente com o empresário supostamente recrutando os criminosos.
No vídeo, o homem fala a um grande grupo de presos, todos com uniformes escuros. Ele se apresenta como membro da organização paramilitar Wagner Group e explica as condições que devem ser atendidas para o recrutamento. O contrato é para seis meses de serviços no campo de batalhas. Entre os avisos, ele diz que desertores seriam fuzilados.
Apesar da alegação de Prigozhin de que o Wagner Group tem “cumprido as obrigações”, há denúncias de abusos praticados pela organização contra os presos que resolveram se juntar a ela. Uma das denúncias diz que as execuções sumárias prometidas pelo empresário de fato fazem parte da rotina.
Andrei Medvedev, de 26 anos, um ex-mercenário que fugiu para a Noruega e recebeu por lá o status de testemunha, disse que presenciou situações assim. “Houve um caso em que trouxeram dois presos que se recusaram a lutar e atiraram neles na frente de outros, por não seguirem ordens”, contou Medvedev ao jornal independente The Moscow Times. “Houve muitos desses casos”.
Em dezembro do ano passado, o Ministério da Defesa do Reino Unido publicou balanço de inteligência dizendo que combatentes recrutados nos presídios russos são levados à Ucrânia para atuar na linha de frente e assim reduzir o risco à vida dos membros mais experientes do Wagner Group.
Os ex-presidiários, geralmente menos experientes, recebem um tablet ou celular que mostra a eles em um mapa a rota que deve ser seguida na linha de frente. Já os comandantes, aqueles com melhor treinamento, ficam na retaguarda, onde o risco é consideravelmente menor, de acordo com o governo britânico.
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