Após 20 anos vivendo em Viena, na Áustria, o jornalista búlgaro Christo Grozev foi obrigado a se manter longe de casa por questões de segurança. O motivo para a mudança forçada é a perseguição empreendida contra ele pelo governo da Rússia, segundo informações do jornal austríaco Falter.
Segundo o próprio jornalista, a integridade dele não estaria mais garantida na Áustria, mesmo com a companhia de agentes de segurança em tempo integral. “Suspeito que haja mais agentes, informantes e capangas russos na cidade do que policiais”, afirmou Grozev, editor-chefe do site investigativo Bellingcat.
Durante uma viagem aos Estados Unidos, o búlgaro diz que fontes no setor de inteligência o alertaram a não retornar a Viena, pois a vida dele estaria em perigo por lá.
Grozev é o principal jornalista investigativo do site holandês Bellingcat. O trabalho dele é focado sobretudo em segurança nacional, operações clandestinas extraterritoriais e o uso da informação como arma de repressão. Ele foi um dos autores da reportagem sobre os envenenamentos cometidos por agentes russos na Inglaterra em 2018, pela qual ganhou o Prêmio Europeu de Jornalismo Investigativo.
As frequentes denúncias contra o governo de Vladimir Putin tornaram o jornalista um inimigo de primeira ordem do Kremlin. Inclusive, em dezembro do ano passado, o nome dele foi adicionado à lista de criminosos procurados pela Rússia. Segundo o Ministério do Interior russo, Grozev é “procurado por infração a um artigo do Código Penal”.
A atitude gerou uma resposta dura do governo da Bulgária, que a classificou como intimidatória. “Este ato é inaceitável. Representa um ataque à liberdade de expressão e uma tentativa de intimidar um cidadão búlgaro”, disse na ocasião o primeiro-ministro interino búlgaro Galab Donev.
Já o jornalista diz que sequer sabe qual o suposto crime que cometeu. “Sou considerado um criminoso, mas não posso me defender porque não sei o motivo. E, aparentemente, eles querem sinalizar que sabem exatamente onde moro”, disse ele ao jornal austríaco.
Por que isso importa?
A repressão à livre manifestação do pensamento aumentou drasticamente na Rússia durante a guerra na Ucrânia, iniciada no dia 24 de fevereiro de 2022. Levantamento feito pela ONG Roskomsvoboda, que monitora a liberdade na internet, aponta que o Kremlin bloqueou no país o aceso a uma média de 4,9 mil sites por semana em 2022.
Somente na primeira semana de dezembro, a Roskomsvoboda afirma que o governo bloqueou 14,8 mil sites, quebrando uma marca que durava mais de um. No total, existem atualmente 640 mil páginas de internet cujo acesso é proibido no país, de acordo com os dados divulgados pela entidade.
A última vez em que um movimento tão intenso de censura digital havia sido notado foi em abril de 2021, quando milhares de cidadãos foram às ruas em apoio ao político oposicionista Alexei Navalny, principal rival doméstico do presidente Vladimir Putin. Naquela ocasião, ao longo de uma semana, 18,1 mil sites foram bloqueados.
O Roskomnadzor, órgão estatal que monitora a internet na Rússia, tem atuado inclusive para facilitar o processo repressivo online. Um projeto de lei atualmente em debate visa a desobrigar a Procuradoria-Geral russa de divulgar justificativas sobre bloqueios de sites. Antes mesmo da aprovação, porém, os dado começaram a desaparecer, e já é bastante difícil saber quais paginas estão inacessíveis e por quê.
Atualmente, a Procuradoria-Geral tem autorização para bloquear sites por razões diversas. A principal delas é a divulgação de informações a respeito da guerra na Ucrânia e da atuação das forças armadas, caso sejam consideradas irregulares pelo governo.
Pedidos feitos por promotores federais bloquearam 138 mil sites somente durante o período da guerra. Entre eles, praticamente todos os veículos de imprensa independentes do país, de forma a impedir o aceso do cidadão russo a notícias que não passem pelo filtro do governo. As principais redes sociais ocidentais, como Facebook, Instagram e Twitter, também estão fora da internet na Rússia.
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