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terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Ataques russos contra civis agravam a crise de deslocamento na Ucrânia

A poucos dias de completar um ano de guerra na Ucrânia, aproximadamente 17 milhões de ucranianos seguem longe de casa, um contingente cada vez maior de pessoas que amplia a crise de deslocamento diariamente. Voltar ao conforto do lar, para muitos, já não parece um sonho possível de realizar. As informações são da revista Newsweek

A maioria dos quase 8 milhões de refugiados que foram buscar segurança em diversas partes da Europa conta com pacotes de assistência razoavelmente generosos do governo. Situação bem diferente dos seis milhões de ucranianos que agora se encontram deslocados dentro da própria Ucrânia e recebem apenas 2.000 hryvnias (aproximadamente R$ 260) mensais, além de informações sobre onde obter ajuda humanitária internacional e muito pouco além disso.

Para estancar o problema, foi criada uma ampla rede de grupos de ajuda para atender às necessidades daqueles forçados a fugir de zonas de guerra. A missão é conduzida principalmente pelos próprios deslocados do país arrasado pelas tropas de Vladimir Putin.

“Nossos parceiros alemães nos forneceram os ônibus, mas são os voluntários ucranianos que fazem o trabalho no local”, disse Oleh Mykhailyk, presidente da organização de ajuda Plich-o-Plich (“Lado a Lado”, em tradução literal), com sede em Odessa.

Cidade ucraniana de Borodyanka, imagem do dia 29 de setembro (Foto: Diego Ibarra Sánchez/Unicef)

O Plich-o-Plich começou a enviar seus ônibus para cidades ocupadas pelas forças russas, incluindo Kherson, Nova Kakhovka e Nikopol, resgatando milhares de ucranianos. No entanto, esse serviço começou a ter que pagar “taxas de transporte” para enviar veículos para dentro e fora das regiões ocupadas. Sem falar que há pessoas visadas pelos militares do país invasor, que têm a vida ainda mais complicada.

“Quando os russos chegaram, eles tinham listas de ativistas da sociedade civil que visavam neutralizar”, disse Mykhailyk. “Em Kherson, muitas dessas pessoas desapareceram”.

Em Kherson, a única capital regional tomada pelas tropas russas desde o início da guerra, mas que teve a retirada de suas forças ordenadas em novembro, os residentes não enfrentam mais a ameaça de sequestro e tortura nas mãos das forças russas. Só que isso não trouxe muito alívio aos moradores.

Isso porque eles agora convivem com a ameaça de ataques de artilharia e foguetes aparentemente sem alvo específico, já que as forças russas instaladas na margem oposta do rio Dnipro coordenam ofensivas de retaliação contra a população local e seus arredores. 

Nesse cenário, a decoração da sede do Plich-o-Plich é feita de restos de foguetes russos recolhidos de hospitais, escolas e casas destruídas.

“Durante a ocupação, se você ouvisse uma explosão na cidade, nem sentiria necessidade de sair da cama”, disse Galina, uma das voluntárias de Plich-o-Plich. “Qualquer ataque na cidade naquela época foi feito por forças ucranianas usando Himars, e eles atingiram alvos militares com a precisão de um joalheiro”.

Tudo mudou – para pior – após a cidade voltar ao controle ucraniano. “Depois da libertação, quando os russos atiram na cidade, eles atingem apenas objetos civis”, conta Galina. Um exemplo aconteceu no dia 24 de dezembro, quando as forças russas atingiram o mercado central.

“Ficou claro que qualquer viagem ao centro da cidade, seja para comprar mantimentos, remédios, para qualquer coisa, poderia ser a última”, diz um nativo de Kherson ouvido pela reportagem.

Retornar ao lar é um sonho distante para inúmeros ucranianos deslocados no decorrer de 2022. Isso porque as casas de muitos deles foram destruídas pelos bombardeios ou suas cidades natais foram tão arrasadas que já não é mais possível viver nelas. 

“Oceano do Bem”

Outra organização formada pelo povo ucraniano é a “Ocean of Good“, que visa a atender pessoas com necessidades médicas. Localizada em Dnipro, ela dá suporte a alguns evacuados de maior risco da Ucrânia até que possam ser encaminhados para centros de tratamento mais adequados na Europa ou na Ucrânia Ocidental.

Irina e Valeriy, um casal de 60 anos da cidade de Severodonetsk, chegaram ao centro depois de terem que abandonar seu lar em março. Hoje eles vivem no local, ajudando em tarefas que vão de trocar fraldas ao descarregamento de caminhões de ajuda. Em troca, recebem hospedagem e comida.

“Não sei o que teríamos feito sem este lugar”, disse Valeriy. “Queremos ir para casa, é claro”, explicou Irina. “E quando Severodonesk for libertada, iremos visitar e comemorar”.

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), as necessidades mais urgentes são as mesmas em toda a Ucrânia: dinheiro, remédios e materiais de construção e reconstrução. Aproximadamente 60% dos deslocados, retornados e aqueles que não deixaram suas casas identificaram dinheiro como o item mais necessário. Medicamentos e materiais de construção e reconstrução foram predominantemente solicitados por retornados e não deslocados.

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