Uma operação de contraterrorismo realizada pelas forças de segurança do Paquistão no distrito do Waziristão do Norte, perto da fronteira com o Afeganistão, nesta sexta-feira (3), terminou com as mortes de dois supostos extremistas. A informação foi divulgada pelo exército paquistanês e reproduzida pela agência Associated Press (AP).
A ação teve como alvo um esconderijo localizado em um tradicional reduto do Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão. Além dos dois radicais mortos, os militares paquistaneses dizem ter recuperado armas que pertenciam à facção.
De acordo com o comunicado do exército, os dois extremistas tiveram envolvimento direto ou indireto com uma série de ataques contra as forças de segurança paquistanesas, um tradicional alvo do TTP. As identidades deles, porém, não foram reveladas.
A ação dos militares ocorre em meio às investigações para identificar os responsáveis pelo atentado que matou 101 pessoas em uma mesquita de Peshawar, que assim como o Waziristão do Norte também fica na província de Khyber Pakhtunkhwa.
No ataque de segunda-feira (30), um homem-bomba entrou em um complexo que abriga uma mesquita e um quartel de polícia. Ele seguiu até o templo religioso e ativou um dispositivo explosivo quando mais de 300 pessoas, entra elas muitos policiais, faziam suas orações.
Mais que a própria explosão, o que causou a maioria das mortes foi o colapso do teto da mesquita, que soterrou centenas de fieis. Além dos 101 mortos, 225 pessoas ficaram feridas, sendo que algumas delas ainda estão no hospital.
Desde que o ataque ocorreu, o governo paquistanês tem apontado o dedo para o TTP, grupo extremista mais ativo no país. O ministro da Defesa, Khawaja Mohammad Asif, e o ministro do Interior, Rana Sanaullah Khan, culparam inclusive o Afeganistão, dizendo que o país vizinho dá abrigo aos integrantes da facção.
Porém, Muhammad Khorasani, porta-voz do TTP, negou a autoria. “De acordo com nossas leis e constituição geral, qualquer ação em mesquitas, madrassas, funerais e outros locais sagrados é uma ofensa”, disse ele, segundo a agência Al Jazeera.
Por que isso importa?
Embora siga os mesmos preceitos fundamentalistas e seja também um grupo sunita, o Taleban do Paquistão é uma entidade desvinculada do homônimo afegão. Os dois grupos, porém, mantêm boas relações, e Islamabad chegou a usar essa proximidade para negociar com o TTP, tendo os talibãs afegãos como intermediários
Assim, um primeiro cessar-fogo foi firmado em 2021, mas acabou interrompido no dia 10 de dezembro daquele ano, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram o governo central de não cumprir as promessas feitas antes do pacto, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.
À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível. Mais tarde, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, sendo mais uma vez rompido pouco depois por decisão dos insurgentes.
A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.
Ultimamente, porém, essa relação está abalada justamente pela retomada dos ataques por parte do TTP contra agentes estatais paquistaneses. Inclusive, no final de 2022, Islamabad sugeriu a possibilidade de realizar ataques contra esconderijos do Taleban do Paquistão no Afeganistão, alegando que entre sete mil e dez mil combatentes do grupo estejam hoje na região de fronteira com a conivência de Cabul.
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