Atravessando uma crônica escassez de alimentos, que vem desde a década de 1990 e foi agravada pelas sanções ocidentais e pela pandemia de Covid-19, a Coreia do Norte está tomando medidas emergenciais para tentar conter o flagelo social da fome. Entre elas, o corte nas rações distribuídas dentro de sua forças armadas, algo que não ocorria desde o começo dos anos 2000. As informações são da agência Reuters.
Pyongyang reconheceu efetivamente o problema. A informação foi dada pelo Ministério da Unificação da Coreia do Sul, que fez menção a uma reportagem veiculada pela mídia estatal da nação vizinha neste mês que fala sobre planos para uma reunião “urgente” do partido governista norte-coreano, tendo a agricultura como pauta principal.
“A situação alimentar (da Coreia do Norte) parece ter se deteriorado”, disse em comunicado o órgão governamental sul-coreano, que cuida das relações com os vizinhos, acrescentando que a convocação para uma reunião tão especial é algo raro no país.
Segundo o ministro da Unificação da Coreia do Sul, Kwon Young-se, há “uma série de sinais” que apontam para a gravidade da situação. “A situação alimentar da Coreia do Norte não parece muito boa, embora ainda não pareça que haja um fluxo de pessoas morrendo de fome”, disse a autoridade.
A situação também bateu na porta dos quartéis. De acordo com matéria publicada pelo jornal sul-coreano DongA Ilbo nesta quarta-feira (15), a Coreia do Norte reduziu as rações diárias de alimentos para seus soldados pela primeira vez em mais de 20 anos, citando uma autoridade sul-coreana não identificada.
A alimentação precária não é novidade na vida dos soldados norte-coreanos, que têm enfrentado sérios problemas no país comandado pela mão de ferro de Kim Jong-un. Além da fome, que deixa até oficiais de alta patente desnutridos, longa jornada de trabalho e inserção na criminalidade são outros problemas.
Nos últimos 30 anos, a Coreia do Norte tem sofrido com os pratos vazios. Muitas vezes tendo desastres naturais como causa, principalmente inundações e tufões que comprometem as colheitas.
Em janeiro, o 38 North, um site dedicado a análises sobre a Coreia do Norte, disse que a “disponibilidade de alimentos no país provavelmente caiu abaixo do mínimo em relação às necessidades humanas”, com a “insegurança alimentar em seu pior nível desde a fome dos anos 1990″.
Além disso, a nação, uma das mais fechadas do mundo, tem as mãos atadas por sanções econômicas impostas a seu programa de armas por EUA e aliados, que têm pressionado Pyongyang a evitar a proliferação de armas nucleares e cooperar para manter a paz e a estabilidade na península.
Kwon relatou que a Coreia do Norte pediu ajuda à agência de alimentos da ONU (Organização das Nações Unidas), o Programa Alimentar Mundial (PMA), mas as negociações não progrediram devido a divergências sobre o monitoramento de qualquer ajuda.
No final de 2021, o regime norte-coreano chegou a buscar na criação de cisnes negros uma solução para o abastecimento de carne da população.
A medida, um plano nacional para o enfrentamento da fome, visava a abordar tanto o fracasso da agricultura em grande escala em fornecer suprimentos alimentares adequados para todo o país quanto às restrições governamentais relacionadas à Covid-19, que bloquearam em grande parte alimentos e outras importações desde o início de 2020, segundo relatou à época o site NK News.
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