O governo norte-americano anunciou no domingo (12), através de um comunicado oficial, que sua força aérea foi responsável por um ataque na Somália que matou 12 indivíduos identificados como terroristas do Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda.
“A pedido do Governo Federal da Somália e em apoio aos combates do Exército Nacional da Somália contra o Al-Shabaab, o Comando Africano (Africom) dos EUA conduziu um ataque coletivo de autodefesa em 10 de fevereiro de 2023″, diz o texto.
De acordo com as forças armadas dos EUA, a operação ocorreu na sexta-feira (10) em uma “área remota aproximadamente 45 quilômetros a sudoeste de Hobyo, na Somália, e cerca de 472 quilômetros a nordeste de Mogadíscio”, a capital nacional. O comunicado afirma ainda que nenhum civil foi morto ou ferido na ação.
Ainda de acordo com o Africom, “extirpar o extremismo requer intervenção além dos meios militares tradicionais”. Dentro dessa mentalidade, Washington argumenta que o presidente somali Hassan Sheikh Mohamud promove um plano de governo que inclui reforma econômica, reconciliação social e política e tolerância religiosa para combater a insurgência islâmica.
Militarmente, os EUA têm apoiado as forças somalis no campo de batalhas, anunciando em 2022 o envio de cerca de 500 soldados ao país africano. O governo norte-americano havia decidido retirar suas tropas do território somali durante a presidência de Donald Trump, mas Joe Biden reativou a missão.
“O Comando dos EUA na África fornece apoio ao governo da Somália para enfrentar as ameaças terroristas, mas somos apenas parte dos esforços dos EUA lá”, disse o general Michael Langley, comandante do Africom.
Segundo Langley, Washington também fornece apoio humanitário a Mogadíscio. “Nossos colegas do Departamento de Estado e da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional têm programas que ajudam a construir resiliência por meio de educação e treinamento; desenvolver a diversidade agrícola; melhorar os mercados e o comércio; e fortalecer a democracia e a boa governança”.
Somali, U.S. forces engage insurgents in support of the Government of #Somalia Feb. 10
— US AFRICOM (@USAfricaCommand) February 12, 2023
“U.S. Africa Command provides support to the Somali government to address terrorist threats, but we are only part of the U.S. efforts there.”
-Gen. Langley, commanderhttps://t.co/buuIqFpldG pic.twitter.com/6n0j91ggFU
Por que isso importa?
O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.
O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.
Um levantamento feito pela ONU (Organização das Nações Unidas) e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).
Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam ainda casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.
Devido ao crescimento do Al-Shabaab, Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.
Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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