A OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou um estudo que aponta que quase um terço, ou 32,8%, dos cidadãos presos na Europa sofrem com doenças mentais. O lançamento do documento ocorreu na capital portuguesa Lisboa na quarta-feira (15) e recebeu apoio do governo.
O relatório sobre saúde prisional na Europa destaca que este é o principal problema de saúde no sistema carcerário. Segundo a OMS, o número pode ser maior, já que menos da metade dos 36 países avaliados possuem dados.
O levantamento da OMS revela que a causa mais comum de morte nas prisões foi o suicídio, com uma taxa muito maior do que na sociedade em geral.
Ainda segundo o estudo, apenas metade dos Estados-Membros garante acesso aos serviços de saúde às pessoas que saem da prisão.
A pesquisa aponta que, em 2020, mais de 613 mil pessoas foram encarceradas nos países pesquisados. O número inclui indivíduos não sentenciados ou condenados.
Superlotação
Além disso, um quinto dos países avaliados comunicou superlotação. Para a OMS, isso pode levar a consequências negativas para a saúde.
O relatório sugere relaxamento de prisão para delitos que não apresentem um alto risco para a sociedade e para os quais existam medidas mais eficazes, como o tratamento de transtornos relacionados ao uso de drogas.
Além da superlotação, o estudo aponta para outras falhas em serviços preventivos de saúde, como o acesso à vacinação. Já a prevenção a Covid-19 foi bem avaliada, com imunizantes oferecidos universalmente e o isolamento dos casos de infecção na maioria das prisões.
Portugal
A ministra da justiça de Portugal, Catarina Sarmento e Castro, afirmou que sua pasta está atenta às condições de vida dos presos e, ao lado do Ministério da Saúde, quer assegurar o direito à saúde e a dignidade.
Em Portugal, a taxa de psiquiatras trabalhando nas prisões é maior do que a média da região. No entanto, as taxas de suicídio são relativamente altas em comparação com o resto da população.
Em 2020, o país teve o quarto menor número da Europa de novas entradas na prisão, em grande parte como resultado de medidas de resposta para prevenir ou controlar a pandemia. Segundo os dados, a ocupação prisional caiu de 114% para 91% no período avaliado. Com isso, o total de presos diminuiu 28% no ápice da crise de Covid-19.
Na maioria das prisões, os históricos de saúde ainda não são digitalizados, tornando a obtenção de dados para o planejamento da política nacional de saúde extremamente difícil. As conclusões apontam que isso também afeta a continuidade dos cuidados quando as pessoas entram ou saem da prisão.
Alternativas necessárias
A conselheira regional da OMS para álcool, drogas ilícitas e saúde prisional, Carina Ferreira-Borges, disse que apoiar pessoas libertadas da prisão para se reintegrar à comunidade e acessar serviços de saúde pode reduzir a probabilidade de reincidência.
Ela avalia que a questão da superlotação nas prisões é um lembrete importante da dependência excessiva do encarceramento e da necessidade de alternativas.
A conselheira afirma que o relatório destaca o valor de uma abordagem focada na saúde e nos direitos humanos ao lidar com os infratores, fornecendo informações importantes sobre as etapas específicas que podem ser tomadas para melhorar nossos sistemas, para os presos e para toda a sociedade.
Banco de dados
Criado em 2016 para abordar a lacuna de informações sobre saúde prisional na região, o banco de dados europeu de saúde nas prisões da OMS identifica áreas que precisam de atenção. O recurso também monitora a saúde das pessoas presas com vistas à avaliação dos sistemas de saúde das instituições, alimentando os serviços de saúde em geral.
O diretor regional da OMS na Europa afirmou que, quando as prisões são excluídas do sistema geral de saúde, as comunidades locais podem ser as mais atingidas. A agência da ONU defende o envolvimento dos Ministérios da Saúde na prestação de cuidados de saúde nas prisões europeias.
O Escritório Regional da OMS na Europa trabalha com a saúde prisional desde 1995, estabelecendo o único programa mundial de saúde nas prisões, que visa monitorar e fornecer evidências para informar o desenvolvimento de políticas e estruturas legislativas relacionadas.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News
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