Petr Pavel, recentemente eleito o próximo presidente da República Tcheca, deu a entender que as relações com a China durante seu governo não serão necessariamente cordiais. O ex-general, que nos tempos de forças armadas chegou a chefiar o Comitê Militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), disse ao jornal Financial Times que seu país “não se comportará como uma avestruz” e, se necessário for, baterá de frente com Beijing.
“É sobre isso que temos que deixar muito claro: a China e seu regime não são um país amigável neste momento, não são compatíveis com as democracias ocidentais em seus objetivos e princípios estratégicos”, disse ele ao periódico. “Isso é simplesmente um fato que temos que reconhecer”.
A vitória de Pavel nas eleições tchecas, derrotando o ex-primeiro-ministro Andrej Babis, teve como parte de seu projeto a ampliação dos laços com o Ocidente, posicionando-se contra a guerra da Rússia na Ucrânia e contestando o fato de a China não ter condenado a invasão.
A postura do futuro líder marou uma mudança de rumo em relação ao governo do antecessor Milos Zeman, que chegou a elogiar a forma como Beijing “estabilizou” sua sociedade nos últimos anos e até o início da guerra mantinha bom relacionamento com Moscou.
Aproximação com Taiwan
O sinal mais claro de que chineses e tchecos estão agora em lados diferentes do tenso campo geopolítico global atual foi o contato mantido com Pavel com Tsai Ing-wen, presidente de Taiwan, que a China considera parte do seu território.
O governo chinês não admite que qualquer nação mantenha laços formais com Taipé, e a conversa telefônica do presidente eleito com a líder taiwanesa gerou contestação de Beijing.
“O presidente eleito tcheco, Pavel, ignorou as repetidas tentativas da China de dissuadi-lo e nossas repetidas representações”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Mao Ning Mao, segundo a agência Reuters. “Ele teimou em pisar na linha vermelha da China, interferindo seriamente nos assuntos internos da China e ferindo os sentimentos do povo chinês”.
Entretanto, o ex-general, que assumirá o comando da República Tcheca em março, deu de ombros para a insatisfação chinesa e disse que seu governo ampliará os laços econômicos com Taiwan. “Não vamos nos comportar como um avestruz para esconder essa realidade”, disse ele.
Tradicionalmente, a reação da China contra países que se aproximam diplomaticamente de Taiwan é impor retaliações comerciais. Foi assim com a Lituânia, caso que levou a União Europeia (UE) a agir junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), contestando as restrições de Beijing às exportações lituanas.
Tal risco, porém, parece não incomodar Pavel. “Eu estou ciente de algumas ameaças potenciais. Mas, ao mesmo tempo, não vejo nenhuma violação de princípios nas relações entre a República Tcheca e a China”, afirmou ele, dizendo que foi Taiwan quem tomou a iniciativa do telefonema.
“Antes de sua eleição, Pavel declarou publicamente que o princípio de ‘uma China’ deveria ser respeitado, mas agora ele voltou atrás em suas palavras”, disse Mao à Reuters, recebendo uma pronta resposta do primeiro-ministro tcheco Petr Fiala. “Como um país soberano, nós mesmos decidimos com quem temos ligações e com quem nos encontraremos”.
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