Dois comandantes veteranos do Estado Islâmico (EI) foram mortos em operações diferentes realizadas nos últimos dias no Afeganistão. Quem alega é o Taleban, que tem no grupo extremista seu principal adversário doméstico desde que assumiu o comando do país, em agosto de 2021.
Zabihullah Mujahid, porta-voz do governo talibã, usou o Twitter para anunciar o sucesso de duas operações de contraterrorismo realizadas recentemente.
Intelligence and Military Chief of Khawarij corruptors killed.https://t.co/JPt6vN8MnJ pic.twitter.com/uUozFJy3CL
— Zabihullah (..ذبـــــیح الله م ) (@Zabehulah_M33) February 27, 2023
De acordo com Mujahid, um dos terroristas mortos, Qari Taesh, atuava como “chefe de inteligência e operações que diretamente planejou operações recentes em Cabul, inclusive contra missões diplomáticas, mesquitas e outros alvos”. Ele era membro do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), um braço afegão da organização terrorista que rivaliza com os talibãs no país.
O EI-K surgiu na esteira da criação do EI do Iraque e da Síria, opera no Afeganistão desde 2015 e não mais se limita a atacar representantes do governo talibã e xiitas. “O EI-K expandiu sua lista de alvos e incluiu diplomatas, infraestrutura crítica e multidões em locais públicos”, diz Mahmut Cengiz, professor da Universidade George Mason, em artigo publicado na revista Homeland Security Today.
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Diante desse cenário, os talibãs têm agido para proteger as missões diplomáticas no Afeganistão. No início de fevereiro, o governo da Arábia Saudita evacuou diplomatas por segurança. Já cidadãos da China estiveram em perigo duas vezes: em janeiro, quando um ataque ocorreu perto da embaixada do país em Cabul, e em dezembro de 2022, quando um hotel frequentado sobretudo por chineses foi atacado.
O outro terrorista citado no comunicado do porta-voz talibã é Ijaz Amin Ahingar, qualificado por Mujahid como líder do EI no subcontinente indiano. Além de ter matado os dois comandantes, o Taleban afirma ter prendido “vários outros membros” do grupo, “incluindo estrangeiros que planejavam ataques mortais”.
Afegãos desprotegidos
O Taleban tem recebido críticas de entidades humanitárias globais por sua inabilidade no campo da segurança, como grupo governante de fato do Afeganistão. A situação ocorre conforme cresce a ameaça do EI-K, que aumentou a frequência de seus ataques nos últimos anos e habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado.
Em setembro do ano passado, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou relatório destacando a ineficiência dos talibãs em sua obrigação de proteger a população local, especialmente algumas minorias xiitas, das ações violentas do EI-K. O documento foca particularmente no caso dos hazaras, comunidade que vive principalmente na região de Hazarajat, mas já se espalha por todo o país.
“Eles são o maior alvo do EI-K devido à identidade religiosa”, afirma Cengiz. “O EI considera os xiitas como apóstatas que precisam ser punidos. Eles também são alvos fáceis para o EI-K, já que o Taleban reluta em proteger os hazaras”, completa ele, reforçando a denúncia da HRW.
São muitas as questões que colocam as duas organizações em lados opostos, apesar de serem grupos radicais islâmicos. “O EI-K vê o Taleban como uma organização herege porque o Taleban colaborou com os países ocidentais e se juntou às negociações de paz com o Estados Unidos. O EI-K acredita que o Taleban é uma ameaça irreconciliável que deve ser combatida militarmente”.
Religiosamente, o EI-K é adepto do Salafismo jihadista, pregando que o mundo deveria seguir os preceitos históricos do Islamismo. Já o Taleban segue o Hanafismo, menos radical e visto por seus rivais como deficiente.
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