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terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Exame de DNA confirma líder do Estado Islâmico entre os mortos em ação militar no Iraque

Um exame de DNA confirmou que um dos terroristas mortos em uma recente operação das forças armadas do Iraque era uma importante figura do Estado Islâmico (EI). Adwan Farhan Jafal era o vice-governador do grupo extremista na região norte de Bagdá, de acordo com a rede local Rudaw.

Jafal foi morto em uma ação que neutralizou nove terroristas, conforme informações divulgadas pelas forças de segurança iraquianas no domingo (30). A operação militar, que incluiu três ataques aéreos, foi uma retaliação pelo atentado realizado pelo EI contra um acampamento de militares no início de janeiro, na região montanhosa de al-Azim, no qual morreram 11 soldados e um vigia.

Veículos blindados do exército do Iraque, em janeiro de 2022 (Foto: reprodução/Facebook)

Ainda no domingo, as forças antiterrorismo iraquianas realizaram operações em sete presídios do país que mantêm membros do EI detidos. A medida surge em meio ao temor de que se repita no país o que ocorreu na Síria, onde o grupo extremista tomou uma prisão no intuito de libertar jihadistas presos. A invasão foi controlada pelas FDS (Forças Democráticas Sírias), milícia armada curda apoiada pelos EUA.

Declínio do EI

Um relatório publicado em janeiro pelo Centro de Combate ao Terrorismo, think tank localizado em Nova York, nos EUA, afirma que há poucas evidências de um ressurgimento significativo do EI no Iraque.

“A insurgência do Estado Islâmico no Iraque parece cada vez mais anêmica, em contraste com o ressurgimento sustentado que desfrutou ao longo de 2019 e início de 2020″, diz o documento. “O Estado Islâmico está cada vez mais isolado da população, confinado a remotos remansos rurais controlados pelas forças armadas e milícias menos eficazes do Iraque e não tem acesso aos centros urbanos”.

O documento, entretanto, afirma que ainda existe o risco de o grupo reconquistar a relevância. “O principal dilema analítico que emerge desse quadro é se a tendência de baixa marca o início de um declínio duradouro para o grupo ou se o Estado Islâmico está apenas se escondendo enquanto lança as bases para sua sobrevivência como uma insurgência geracional”.

Por que isso importa?

Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS, uma milícia curda apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), publicado em julho de 2021, a prioridade do EI atualmente é “o reagrupamento e a tentativa de ressurgir” em seus dois principais domínios, Iraque e Síria, onde ainda mantém cerca de 10 mil combatentes ativos. O documento sugere, ainda, que o grupo teve considerável perda financeira, devido a dois fatores: as operações antiterrorismo no mundo e a má gestão de fundos por parte de seus líderes.

Paralelamente à derrocada do EI, a pandemia de Covid-19 reduziu o número de ataques terroristas em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas. Entretanto, grupos jihadistas têm se fortalecido em zonas de conflito, e isso pode causar um impacto na segurança global conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.

Esse cenário permitiu ao EI, particularmente, ganhar uma sobrevida, fazendo uso sobretudo do poder da internet. À medida em que as restrições relacionadas à pandemia diminuem gradualmente, há uma elevada ameaça de curto prazo de ataques inspirados no grupo fora das zonas de conflito. São ações empreendidas por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar a retomada de força da organização.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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