Após uma contestada sexta vitória eleitoral neste domingo (17), o presidente de Uganda, Yoweri Museveni, apertou o cerco contra a oposição. Nesta segunda (18), soldados armados invadiram um dos comitês do candidato oposicionista Bobi Wine, na capital Kampala.
Em seu Twitter, o cantor de 35 anos denunciou que as forças do governo impedem funcionários de entrar e sair do comitê. “Depois da fraude eleitoral, Museveni recorreu às formas mais desprezíveis de intimidação”, escreveu.
Conforme a Comissão Eleitoral de Uganda, o principal político de oposição do país conquistou 35% dos votos nas eleições do dia 12. Já Museveni teria sido a escolha de 59% do eleitorado.
Wine está em prisão domiciliar desde quarta-feira (14). Segundo o ex-candidato, cerca de 500 soldados cercaram e invadiram sua casa e impedem a entrada de mantimentos. “Nosso estoque de comida acabou e minha esposa foi atacada quando tentou buscar algo no jardim”, disse.
Em rápida entrevista com diversas interrupções ao jornal sul-africano “Daily Maverick”, no sábado (16), o cantor cujo nome é Robert Kyagulanyi, relatou interferências em seus telefones e forte perseguição.
“Quero que o exterior nos ajude e levante suas vozes enquanto ainda estou vivo”, disse Wine. “Minha vida está perigo e tudo pode acontecer. Há evidências claras de fraude eleitoral, vimos soldados fraudando cédulas”.
O bloqueio de todos os canais de comunicação e internet, contudo, impossibilitam a veiculação das provas. De acordo com o monitor NetBlocks, o país bloqueou pelo menos oito redes após as eleições.
Além disso, Museveni não aceitou que uma equipe de observadores eleitorais da UE (União Europeia) acompanhasse as eleições no país, disse o chefe da diplomacia do bloco, o catalão Josep Borrell. “Se algo acontecer comigo, o país pode implodir”, apelou o cantor.
País jovem, líder datado
A fama de Bobi Wine como cantor de reggae o alavancou como um dos principais símbolos contra o regime de Museveni. Sua popularidade começou entre a jovem população do país, onde quase metade dos 45 milhões de habitantes têm 14 anos ou menos.
Aos 76 anos, Museveni ocupa a presidência de Uganda há mais de três décadas e usou a violência como resposta aos protestos. Estima-se que 50 pessoas morreram em repressões policiais desde outubro – incluindo funcionários de Wine.
“Insisto para que essas alegações sejam investigadas de forma rápida e transparente e também encorajo que quaisquer disputas sejam resolvidas por meios pacíficos e pelos canais legais prescritos”, exortou a secretária-geral da Comunidade Britânica das Nações, Patricia Scotland.
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