Os EUA terão de deixar a condescendência de lado se quiserem ajudar o México, seu maior parceiro, com quem manteve fluxo de comércio bilateral da ordem US$ 614 bilhões em 2019. A avaliação é do analista político Evan Ellis, do CSIS (Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais).
Não é hora de tratar o vizinho ao sul como um “Estado falido que demanda caridade, tutela ou imposição de ordem”, afirma Ellis no estudo “Vizinho em Risco: O Aprofundamento da Crise no México“, divulgado no último dia 4.
O pesquisador espera um aumento no comércio entre os dois países com a implementação do USMCA (Acordo EUA-México-Canadá), o chamado “novo Nafta”, que entrou em vigor em julho deste ano. Em 2019, os EUA investiram US$ 101 bilhões no México.
A pandemia sacramentou um processo de crise econômica que já se desenhava no país. A queda dos preços do petróleo a partir de 2014 diminuiu as receitas do país, exportador do produto.
Ano difícil
Com o novo coronavírus, o cenário tornou-se dramático: apenas no segundo trimestre deste ano, o PIB (Produto Interno Bruto) despencou 18,9% ante o mesmo período de 2019. O Brasil, em comparação, registou queda de 9,7%.
Em 2020, espera-se uma contração de 10,5% da economia mexicana em relação ao ano passado. Para a América Latina como um todo, a expectativa é de retração de 9,4%.
O país perdeu quase um milhão de vagas no primeiro semestre e, estima-se, 73% delas foram fechadas em definitivo. O mercado de trabalho só deve se recuperar em 2024, segundo estudo do banco espanhol BBVA.
O Estado e o narcotráfico
O México terá consideráveis desafios de segurança nos próximos anos. O mais grave deles é o combate aos cartéis de drogas, como os de Sinaloa, no norte do país, ou de Jalisco, no oeste, que controlam porções cada vez maiores de território.
Roubos, chacinas e tentativas de assassinato de políticos e juízes têm se tornado frequentes. Em junho, o secretário de segurança da Cidade do México, Omar García, sofreu um ataque em Lomas de Chapultepec, bairro endinheirado da capital mexicana.
Desde o início da pandemia, esses grupos têm exercido a função de um Estado paralelo, oferecendo cestas básicas e serviços emergenciais a populações sob seu controle. A prática, comum nas festas de fim de ano, ganhou volume em 2020 em estados como Tamaulipas, no nordeste do país.
Neste caso, ajudará o México o vizinho que oferecer cooperação policial e militar para treinamento, equipamento e inteligência. Será necessário avançar contra estruturas na fronteira que facilitam o tráfico de drogas e armas entre os dois países, observa o pesquisador.
Os EUA também precisarão de uma postura mais proativa para endereçar problemas de crescimento econômico no país. É a forma mais eficiente de diminuir o fluxo de imigrantes sem documentos que veem do lado de lá do rio Grande uma chance de melhorar de vida.
Queda de braço estratégica
Até hoje, a presença chinesa no país foi tímida por algumas razões. Entre elas a desconfiança do empresariado mexicano em relação ao país, cuja pauta produtiva é mais concorrente que complementar.
A integração das cadeias de produção do México com os EUA, desde o início da vigência do Nafta, em janeiro de 1994, também é fundamental para uma baixa cooperação com a China.
Para Ellis, embora não exista uma ameaça bem delineada dos chineses como parceiros comerciais de grande porte, há motivos para preocupação.
A crise desde o início do ano seria incentivo para que o México expanda seu relacionamento com a economia que mais cresce no mundo.
Para evitar o aumento da presença chinesa tão perto de suas fronteiras, o governo norte-americano terá de aproveitar os sinais do presidente Andrés Manuel López Obrador de que a meta é preservar o relacionamento com o vizinho ao norte o mais rápido possível.
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