Enfim uma boa notícia econômica vinda de Buenos Aires: o país recebeu nesta segunda (31) o aceite de 99% de seus credores privados externos para reestruturar essa parte da dívida, de cerca de US$ 66 bilhões.
O “swap”, ou troca dos títulos emitidos pelo país nas reestruturações de 2005 e 2015, e a partir de 2016, recebeu o aceite de 99% dos credores privados de sua dívida sob legislação estrangeira.
O acordo também prevê extensão dos prazos de vencimento da dívida, com pouco a pagar até 2026. A meta seria ter “uma página em branco nos próximos anos para garantir que o crescimento recomece”, definiu Alberto Bernal, da XP Investimentos, ao diário britânico “Financial Times“.
A situação é distinta daquela vivida pelo país após os defaults de 2002 e 2003, efeito direto da crise de 2001. Com baixa adesão dos credores para aderir ao programa de swap dos títulos argentinos, o país levou quase dez anos para solucionar o impasse.
Entre os motivos, os constantes bloqueios dos chamados “fundos abutres”, especializados na compra de ativos cujo preço sofreu forte desvalorização em relação a seu valor de face.
Esses fundos, que detinham cerca de 8% da dívida argentina, foram à Justiça em Buenos Aires e em Nova York para receber o valor integral. Com descontos, o investimento deixava de valer a pena, argumentavam.
A Argentina já vem trocando títulos de dívida emitida para credores internos, no total de US$ 41,7 bilhões. Neste caso, o “swap” será concluído nesta semana.
Economistas consultados pelo jornal portenho “La Nación” apontam que o efeito imediato do anúncio é mais político que econômico.
O motivo é que os três maiores credores privados do país já haviam anunciado o aceite à reestruturação em 4 de agosto, gerando ali os devidos ajustes no mercado.
O que significa para a Argentina?
Com a reestruturação, o país sai da moratória técnica na qual se encontra desde maio. Na ocasião, a argentina deu calote em juros no valor de US$ 500 milhões. Em agosto, outros US$ 600 milhões não foram pagos.
Com 99% da dívida pública em moeda estrangeira a ser trocada por novos títulos, o país economizará US$ 37,7 bilhões. Isso porque, durante as negociações, o governo local conseguiu renegociar parte dos valores dos juros devidos.
Para o ministro da Economia, Martín Guzmán, o país será tranquilizado agora que “tiramos de cima a dívida insustentável”. “Avançamos em resolver a situação de default virtual que a Argentina apresentava”, afirmo Guzmán, durante o anúncio do sucesso do plano, em Buenos Aires.
Os economistas consultados pelo “La Nación”, porém, são céticos quanto à capacidade de recuperação econômica rápida do país. O temor de curto prazo é o de uma crise cambial.
As reservas internacionais, fundamentais para efetuar trocas de pesos por dólares e outras moedas fortes, estão baixas: os dados mais recentes, do início de julho, indicam um colchão cambial de US$ 43 bilhões.
As cotações de dólar estão cada vez mais distantes entre si: no câmbio oficial, entre 73 e 78 pesos, enquanto o “blue”, eufemismo para o dólar paralelo, fica entre 134 e 138 pesos.
E a dívida com o FMI?
A dívida com o FMI (Fundo Monetário Internacional) não é contemplada pela decisão desta segunda. A Argentina deve US$ 44 bilhões ao Fundo, referentes a um contrato de crédito de US$ 57 bilhões de 2018.
O Fundo, cuja função é auxiliar países com problemas em suas contas com o exterior, realizou a concessão ao governo do ex-presidente Mauricio Macri.
Na época, o objetivo era controlar a crise cambial que ameaçava, além de jogar na lona o valor do peso argentino, evitar nova moratória da dívida. Em sua história, a Argentina já entrou em default nove vezes.
Os cerca de US$ 44 bilhões devidos entraram no país antes da posse do atual presidente Alberto Fernández, que tomou posse em dezembro de 2019.
Na última quarta (26), Fernández e seu ministro da Economia, Martín Guzmán, notificaram o Fundo do interesse de um acordo que permita pagar a dívida deixada pro Macri. A manifestação foi feita em conversa telefônica com a diretora-gerente do FMI, a búlgara Kristalina Georgieva.
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