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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Após pressão de grupos de direitos humanos, Taleban liberta dois jornalistas afegãos

O Taleban libertou, nesta quarta-feira (2), dois jornalistas afegãos da emissora privada Ariana TV que haviam sido detidos um dia antes, por motivos não revelados pelo grupo radical que governa o Afeganistão. As informações são da rede Gandhara.

“Finalmente o TB [Taleban] libertou Aslam Ejab e Waris Hasrat. Eles ficaram detidos pelo TB por duas noites”, disse Sharif Hassanyar, chefe da Ariana, em sua conta no Twitter.

Os dois jornalistas foram detidos por membros do Taleban em frente ao prédio da emissora, na segunda-feira (31). Desde então, o governo talibã não havia dado qualquer explicação para a detenção. sequer havia confirmação oficial de que haviam sido detidos.

Um dia antes das detenções, um convidado de um programa da emissora havia criticado o regime talibã durante um debate ao vivo. Hasrat é âncora e produtor do programa em questão, enquanto Ejab cobre economia na Ariana TV.

Aslam Ejab e Waris Hasrat, jornalistas afegãos detidos pelo Taleban (Foto: reprodução/Twitter)

A libertação da dupla ocorreu em meio à pressão de grupos de direitos humanos. A ONG afegã Free Speech Hub foi uma das primeiras instituições a se manifestar, instando o governo talibã a “libertar imediatamente os jornalistas detidos e não suprimir a liberdade de expressão no Afeganistão”, de acordo com o site La Prensa Latina.

Já a Anistia Internacional disse que as detenções “não eram justificáveis” e que tais medidas representam uma “grave ameaça ao direito à liberdade de expressão”. Igualmente, pediu a libertação “incondicional e imediata” dos profissionais.

Por sua vez, a Unama, missão da ONU no Afeganistão, usou o Twitter para cobrar explicações. “Crescente preocupação com as restrições à mídia e à liberdade de expressão. A ONU pede que o Taleban torne público por que eles detiveram esses repórteres da @ArianaNews_ e respeite os direitos dos afegãos. Continuamos a pedir aos talibãs que esclareçam o paradeiro das mulheres ativistas que desapareceram há duas semanas”.

Por que isso importa?

Ao menos seis pessoas foram presas pelo Taleban em 2022 por serem jornalistas ou colaborarem com profissionais da área. No dia 6 de janeiro, três repórteres foram detidos enquanto trabalhavam na cobertura de manifestações contra o Taleban na província de Panjshir. Eles estavam a serviço de um canal no YouTube chamado Kabul Lovers, com aproximadamente 244 mil inscritos.

Em outro caso registrado neste ano, o Taleban prendeu Faizullah Jalal, professor de Direito e ciência política da Universidade de Cabul, em 8 de janeiro. Ele foi detido por quatro dias sob acusações de fazer declarações “sem sentido” e “incitar” pessoas contra os talibãs. depois de solto, Jalal disse ter sido preso por ter discutido com um porta-voz talibã em um debate na televisão. Aslam Ejab e Waris Hasrat, da Ariana TV, são as vítimas mais recentes da repressão talibã à mídia.

Números mostram que o jornalismo afegão tem sido sufocado pelo Taleban. Em dezembro de 2021, uma pesquisa conduzida em parceria pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e pela Associação de Jornalistas Independentes do Afeganistão (AIJA) apontou que 231 veículos de imprensa foram fechados e mais de 6,4 mil jornalistas perderam o emprego no Afeganistão desde o dia 15 de agosto, quando o Taleban assumiu o poder no país.

Os dados apontam que mais de quatro em cada dez veículos de comunicação desapareceram nesse período, e 60% dos jornalistas e funcionários da mídia estão impossibilitados de trabalhar. As mulheres sofreram muito mais: 84% delas perderam o emprego, contra 52% no caso dos homens. Entre as 34 províncias do país, em 15 delas não há sequer uma mulher jornalista trabalhando atualmente.

Dos 543 meios de comunicação registrados no Afeganistão antes da ascensão talibã, apenas 312 ainda operavam no final de novembro. Isso significa que 43% dos meios de comunicação afegãos desapareceram em um espaço de três meses. Das 10.790 pessoas que trabalhavam na mídia afegã (8.290 homens e 2.490 mulheres) no início de agosto, apenas 4.360 (3.950 homens e 410 mulheres) ainda estavam trabalhando quando a pesquisa foi realizada.

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