Acusado de envolvimento com casos de mortes e tortura em uma prisão controlada por separatistas pró-Rússia em Donetsk, no leste da Ucrânia, um guarda responsável pela segurança do local foi detido em Kiev na segunda-feira (8). As informações são da Radio Free Europe.
De acordo com informações da assessoria de imprensa do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), o detido estaria conectado à “matança e tortura de cidadãos ucranianos detidos ilegalmente” na penitenciária conhecida como “
Izolyatsia”. Ele poderá responder por formação de grupo terrorista, violação do direito da guerra e tráfico de seres humanos. Segundo o órgão, as restrições pré-julgamento do suspeito serão decididas em breve.O escritor ucraniano Stanislav Aseyev – que passou dois anos e meio no centro de detenção separatista até ser solto em dezembro de 2019 – repercutiu a detenção em sua conta no Facebook, descrevendo o acusado como “um dos principais criminosos de guerra e guarda de Izolyatsia, Denys Kulikovskiy, também conhecido como ‘Palych’”.
Os separatistas tomaram uma antiga fábrica e centro de arte depois que assumiram o controle da cidade e de algumas regiões de Donetsk e Luhansk da Ucrânia, no conturbado território de Donbass, em 2014. É para lá que vão cidadãos ucranianos libertados de Izolyatsia como parte de programas de troca de prisioneiros, e de onde surgiram relatos de torturas por guardas que servem no local.
Não se sabe ao certo o número de detentos na extinta instalação industrial, que também é usada como centro de treinamento dos insurgentes e depósito de veículos, equipamento militar e armas.
Por que isso importa?
A tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a UE. A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga do líder para Moscou em fevereiro de 2014.
Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da Crimeia com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.
Após o referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território da Rússia. Entre outras medidas, adotou o rublo russo como moeda e alterou o código dos telefones para o da Rússia.
Além do envolvimento na questão da Crimeia, o governo russo também é acusado de apoiar os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014.
O conflito armado de Donbass, que já matou mais de 13 mil pessoas, opõe o governo ucraniano às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que juntas compõem a região de Donbass e contam com suporte militar russo. Entre as demandas dos grupos pró-Moscou estão maior autonomia das duas repúblicas autoinstituídas, de maioria étnica russa.
Os dois países se culpam mutuamente pelo aumento dos combates no leste ucraniano. A Rússia também concentrou tropas na fronteira com a Ucrânia, um movimento que Moscou classificou como “exercício defensivo“. Não há perspectiva de recuperação das relações entre Moscou e Kiev.
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