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terça-feira, 30 de novembro de 2021

ONG do Catar fez doações milionárias a organizações extremistas, aponta relatório

Documentos coletados pelo The Middle East Forum (MEF), um think tank norte-americano da cidade da Filadélfia, revelam quase 46 mil doações feitas a entidades islâmicas por uma fundação de caridade do Catar, a ONG Sheikh Eid Bin Mohammad Al Thani Charitable Association. Uma parte do dinheiro foi destinada a organizações jihadistas.

“Essas concessões, emitidas entre 2004 e 2019, totalizam mais de US$ 770 milhões. Uma proporção substancial desse dinheiro acabou nos bolsos de grupos jihadistas e seus representantes”, diz relatório do MEF.

Outro think tank, o Carnegie Endowment for International Peace, classifica a ONG catari como “provavelmente a maior e mais influente organização ativista de ajuda humanitária salafista do mundo”, em referência ao movimento ortodoxo, internacionalista e ultraconservador inserido no islamismo sunita. E destaca que o fundado da entidade Abdulrahman al-Nuaimi, foi listado como terrorista pelo Departamento do Tesouro dos EUA em 2013.

Membros do grupo jihadista Estado islâmico no Grande Saara (Foto: Divulgação)

Entre as organizações beneficiadas pela ONG estão grupos associados à Al-Qaeda e a outras organizações jihadistas. A partir dos documentos, que serão revelados em breve pelo MEF, será possível investigar de forma mais aprofundada o financiamento de ações extremistas por parte do governo do Catar.

Há um financiamento claro de jihadistas em regiões imagináveis, como Iêmen, os territórios palestinos, o Paquistão entre outros. Mas há muito mais o que investigar mais”, afirma Sam Westrop, diretor do programa de observação do islamismo no MEF. Segundo ele, é preciso avançar nas investigações para analisar o alto investimento do Catar em locais como África Ocidental e África Oriental, duas regiões de forte presença jihadista.

Por que isso importa?

Ações antiterrorismo globais têm enfraquecido os dois principais grupos terroristas do mundo, o Estado Islâmico (EI) e a Al-Qaeda. Já a pandemia de Covid-19 fez cair o número de ataques em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas. Na tentativa de manter a relevância, as organizações jihadistas têm investido em zonas de conflito, como o continente africano, e isso pode causar um impacto a curto prazo na segurança global, conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.

O EI, em particular, se enfraqueceu militar e financeiramente, vitimado pela má gestão de fundos por parte de seus líderes e sufocado pelas sanções econômicas internacionais. Porém, a organização ganhou sobrevida graças ao poder de recrutar seguidores online. Atualmente, as ações do EI são empreendidas quase sempre por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.

Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que o EI dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas no país.

Assim, o principal reduto tanto do EI quanto da Al-Qaeda tornou-se o continente africano, onde conseguem se manter relevante graças à ação de grupos afiliados regionais, como Al-Shabaab, ISWAP, EIGS e Boko Haram. A expansão em muitas regiões da África é alarmante e pode marcar a retomada de força global dessas duas organizações, algo que em determinado momento tende refletir em regiões sem conflito, como Europa e Estados Unidos, alvos preferenciais de ataques terroristas.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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