A marinha das Filipinas finalmente conseguiu, na terça-feira (23), entregar o suprimento de comida aos soldados estacionados no atol de Ayungin Shoal, no Mar da China Meridional. Na semana passada, barcos de reabastecimento haviam sido bloqueados por patrulhas da guarda costeira chinesa, que também usaram jatos de água para repelir as embarcações filipinas. As informações são da agência Associated Press.
De acordo com o secretário de Defesa Delfin Lorenzana, as entregas foram feitas por dois barcos de madeira que conseguiram chegar ao atol sem maiores problemas. Entretanto, quando a entrega dos suprimentos já estava em andamento, um bote com três membros da guarda costeira chinesa foi visto fotografando a entrega. “Comuniquei ao embaixador chinês que consideramos esses atos uma forma de intimidação e assédio”, disse Lorenzana.
O secretário afirmou que a entrega ocorreu após garantias do embaixador da China em Manila de que o incidente da semana anterior não se repetiria. Assim, não foi necessária escolta armada da marinha filipina, embora um avião da força aérea local tenha sobrevoado a região durante o processo de entrega dos suprimentos.
O atol fica dentro Zona Econômica Exclusiva (ZEE) das Filipinas, que se estende a até 200 milhas náuticas da costa. A região, entretanto, é palco de reivindicações territoriais por parte da China e de outras nações, o que leva a constantes conflitos diplomáticos. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, alegou que a guarda costeira atuou em defesa da soberania nacional após os navios filipinos entrarem em águas chinesas sem permissão.
Mudança de tom
Um dia antes da entrega dos suprimentos, o presidente filipino Rodrigo Duterte havia adotado um discurso duro contra a China devido ao ataque da semana anterior. Habitualmente ameno ao falar sobre o vizinho, ele mudou o tom e fez coro com a União Europeia (UE) e com os Estados Unidos, que também criticaram a ação da guarda costeira chinesa.
“Abominamos o recente evento em Ayungin Shoal e vemos com grande preocupação outros acontecimentos semelhantes”, disse Duterte durante uma cúpula de líderes asiático. “Isso não fala bem das relações entre nossas nações e nossa parceria”.
Antes, a UE já havia repudiado o episódio e “quaisquer ações unilaterais que ponham em risco a paz, a segurança e a estabilidade na região e a ordem baseada nas regras internacionais”. Washington, por sua vez, chamou a ofensiva de “perigosa, provocativa e injustificada”. E ressaltou que um ação hostil da China levaria a uma reação militar norte-americana, com base em um compromisso de defesa mútuo firmado com Manila.
Por que isso importa?
A China reivindica quase todo o Mar da China Meridional, um alegação que o Tribunal de Haia definiu em 2016 como injustificada. Beijing, porém, rejeita a decisão da corte e insiste em suas reivindicações sobre a região, com base em “direitos históricos”.
O presidente filipino Rodrigo Duterte, cujo mandato termina no próximo ano, costuma adotar um tom ameno ao falar sobre Beijing, mesmo no que tange a disputas marítimas que invariavelmente causam prejuízo a seu país. Ele prefere não hostilizar o vizinho na esperança de manter os fluxos de ajuda do país, chegando a dizer que não quer “incomodar a China”, especialmente com um eventual conflito armado.
“A China continua sendo o nosso benfeitor”, disse o presidente, em reunião de gabinete em maio deste ano. “Só porque temos um conflito com a China não significa que devemos ser rudes e desrespeitosos”.
Além da disputa territorial, a pesca ilegal é tema de constante atrito entre China e Filipinas no que tange ao Mar da China Meridional. Ultimamente, tem aumentado a presença de pesqueiros chineses irregularmente posicionados dentro da ZEE das Filipinas. Beijing, porém, usa o argumento histórico para justificar a presença dos barcos, e Manila não tem adotado medidas mais duras para combater a prática.
Além das Filipinas, o avanço chinês sobre o Mar da China Meridional preocupa outros países do sudeste asiático, como Malásia, Brunei e Vietnã. Beijing já implantou plataformas de vigilância para além de seus limites marítimos.
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