Pressionado por temores relacionados ao conflito com a Ucrânia, o rublo russo sofreu desvalorização e ultrapassou o valor de 75 rublos por dólar nesta terça-feira (23), maior queda dos últimos quatro meses. A cotação resultou em venda massiva no mercado de títulos do governo, informou a agência Reuters.
No começo da tarde, o rublo estava 0,4% mais baixo em relação ao dólar, em 75,07. Depois chegou a 75,2925, o pior índice desde 8 de julho. Em relação ao euro, a moeda teve desvalorização de 0,8%, para 84,52 rublos por euro.
A piora no cenário tem relação com as preocupações da comunidade internacional com uma iminente invasão militar da Federação Russa ao território ucraniano. A Rússia nega tais intenções e culpa Washington pelo aumento da tensão, acusando os EUA de fornecer armamento e enviar conselheiros militares a Kiev. Além disso, manifesta insatisfação com o aumento de movimentações de tropas da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na região.
Um episódio que contribuiu para as perdas registradas nesta semana foi a declaração do Serviço de Inteligência Estrangeiro da Rússia (SVR), que equiparou o momento vivido na Ucrânia com os preparativos para a guerra na Geórgia em 2008.
“Não há sinais de desaceleração ou afrouxamento no horizonte imediato, mas a esperança é que não haja escalada. A retórica e as manchetes devem diminuir o sentimento em relação aos ativos russos novamente esta semana”, declarou em nota o Alfa Bank, maior banco privado da Rússia.
Segundo a Reuters, a liquidação do mercado atingiu os títulos do tesouro russos OFZ, documentos de empréstimos federais com cupom emitidos pelo Kremlin. Os rendimentos dos OFZs de referência de 10 anos, que se movem inversamente com seus preços, dispararam para 8,66%, um nível visto pela última vez no início de 2019. Em uma tentativa de estabilizar o mercado, o Ministério das finanças anunciou o cancelamento dos leilões semanais de OFZ com vencimento nesta quarta-feira (24).
O enfraquecimento da moeda russa contribui para a alta da inflação, impactando no padrão de vida local, uma das grandes aflições das famílias do país.
Por que isso importa?
A tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a União Europeia (UE). A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.
Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da Crimeia com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.
Após o referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território da Rússia. Entre outros, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o da Rússia.
O governo russo também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, com suporte militar russo, ao governo ucraniano.
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