O presidente filipino Rodrigo Duterte, frequentemente acusado pelos opositores de fazer vista grossa para as ações abusivas da China, dessa vez engrossou a voz ao falar sobre Beijing. Na segunda-feira (22), ele criticou o ataque de embarcações da guarda costeira chinesa contra barcos de reabastecimento das Filipinas, parte dos desdobramentos de uma disputa territorial entre os dois países no Mar da China Meridional. As informações são do site Benar News.
“Abominamos o recente evento em Ayungin Shoal e vemos com grande preocupação outros acontecimentos semelhantes”, disse Duterte durante uma cúpula de líderes asiáticos, referindo-se a um atol ocupado pelas Filipinas no Mar da China Meridional. “Isso não fala bem das relações entre nossas nações e nossa parceria”.
No incidente em questão, a guarda costeira chinesa bloqueou a passagem e usou canhões de água contra barcos filipinos que levavam suprimento alimentar para soldados estacionados em Ayungin Shoal, parte das Ilhas Kalayaan, localizadas 194 quilômetros a oeste da província Palawan, nas Filipinas.
A União Europeia (UE) já havia manifestado repúdio às ações dos navios chineses contra os filipinos, em comunicado publicado no domingo (21). “Este episódio segue outras ações unilaterais de navios da República Popular da China no Mar da China Meridional nos últimos meses”, diz o texto. “A União Europeia reitera a sua forte oposição a quaisquer ações unilaterais que ponham em risco a paz, a segurança e a estabilidade na região e a ordem baseada nas regras internacionais”.
Os Estados Unidos também contestaram a ação de Beijing, classificada como “perigosa, provocativa e injustificada”. E ressaltaram que um ação hostil da China levaria a uma reação militar, com base em um compromisso de defesa mútuo firmado entre Washington e Manila. Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, afirmou em comunicado oficial que a tensão provocada pela China “ameaça diretamente a paz e a estabilidade regionais”.
Por que isso importa?
A China reivindica quase todo o Mar da China Meridional, um alegação que o Tribunal de Haia definiu em 2016 como injustificada. Beijing, porém, rejeita a decisão e insiste em suas reivindicações, com base em “direitos históricos”.
Habitualmente desbocado, Duterte costuma adotar um tom ameno ao tratar da China, mesmo no que tange a essas e a outras disputas marítimas. O presidente prefere não hostilizar o vizinho na esperança de manter os fluxos de ajuda do país, chegando a dizer que não quer “incomodar a China”, especialmente com um eventual conflito armado.
“A China continua sendo o nosso benfeitor”, disse o presidente, em reunião de gabinete em maio deste ano. “Só porque temos um conflito com a China não significa que devemos ser rudes e desrespeitosos”.
Além da questão territorial, a pesca ilegal é tema de constante atrito entre China e Filipinas, embora Manila não tenha adotado medidas duras para combater a prática.
Ultimamente, tem aumentado a presença de pesqueiros chineses irregularmente posicionados dentro da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) das Filipinas, que se estende a até 200 milhas náuticas da costa. Mais uma vez, Beijing usa o argumento histórico para justificar a presença dos barcos.
Além das Filipinas, o avanço chinês sobre o Mar da China Meridional preocupa outros países do sudeste asiático, como Malásia, Brunei e Vietnã. Beijing já implantou plataformas de vigilância para além de seus limites marítimos.
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