Em 2017, a repressão contra a minoria uigur na região chinesa de Xinjiang se intensificou. Sob o governo de Xi Jinping, Beijing mandou cerca de um milhão de uigures, cazaques e pessoas de outras minorias muçulmanas para campos de detenção, numa ação que gerou denúncias de genocídio por parte de diversas nações. Na prática, porém, pouco se fez para punir o governo chinês. Agora, membros da diáspora uigur em todo o mundo, apoiados por grupos de defesa dos direitos humanos, contestam a inércia global e cobram ações severas contra a China. As informações são da Radio Free Europe.
Entre os dias 11 e 14 de novembro, Praga sediou o Congresso Mundial Uigur, que reuniu representantes da etnia hoje espalhada por 25 países de Ásia Central, Oriente Médio, Europa e América do Norte. “No geral, a resposta internacional foi abismal e totalmente vergonhosa. Foi extremamente inadequada, dado o escopo das atrocidades”, disse Adrian Zenz, especialista em políticas étnicas da China que publicou evidências detalhadas dos abusos cometidos por Beijing contra os uigures.
As investigações de Zenz indicam que o governo chinês gastou bilhões de dólares na construção de campos de detenção e no recrutamento dos agentes de segurança pública responsáveis pela gestão dessa áreas. O dinheiro também foi investido em tecnologia de vigilância para manter os uigures sob constante fiscalização estatal. Embora não negue a existência dos campos, Beijing diz que eles servem para “reeducação” de muçulmanos, a fim de evitar a radicalização e, assim, combater o terrorismo.
Para os especialistas no assunto, não falta documentação capaz de comprovar os abusos. Em 2019,o jornal The New York Times publicou cerca de 400 documentos que abordam a questão. “Nunca tivemos esse nível de documentação para uma atrocidade em tempo real. É sem precedentes”, disse Rian Thum, pesquisador sênior da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, e especialista em Xinjiang.
Recentemente, novos documentos vieram à tona, dessa vez através da Sociedade Oxus para assuntos da Ásia, uma organização de pesquisa de Washington, e do UHRP (Projeto de Direitos Humanos Uigur, da sigla em inglês). As novas evidências indicam que a China não age somente dentro de suas fronteiras, mas também no exterior, inserindo governos de países como Paquistão, Tadjiquistão e Cazaquistão no processo de silenciar a diáspora uigur.
A repressão internacional do governo inclui ações de desinformação online através de redes sociais como o Facebook e a vigilância tecnológica viabilizada pela ação de hackers que usam falsos sites uigures para disseminar vírus e, assim, invadir computadores de uigures exilados. Já a ação junto a governos estrangeiros permite a Beijing conseguir extradição de uigures, que assim retornam aos campos de detenção e voltam a viver sob a vigilância estatal doméstica.
Reação internacional
Os primeiros indícios de que o Ocidente resolveu se voltar contra a China por sua atuação em Xinjiang já começaram a surgir. Os Estados Unidos bloquearam a exportação de algodão e de tomates de empresas acusadas de usar uigures em situação de trabalho forçado, enquanto a União Europeia (UE) e o Reino Unido sancionaram oficiais suspeitos de atuação nos campos de detenção.
Em outubro, também ocorreram protestos na cerimônia de acendimento da chama olímpica, realizada em Atenas, na Grécia. Essa é uma tendência que tem marcado o período pré-Olímpico e tende a se manter mesmo durante os Jogos Olímpico de Inverno Beijing 2022, que começam no dia 4 de fevereiro.
O britânico Tomas Bach, presidente do Comitê Olímpio Internacional (COI), descarta qualquer possibilidade de adiamento ou cancelamento dos Jogos e destaca o princípio adotado pelo órgão de que é “politicamente neutro”. Na visão dele, questões como a dos uigures e do Tibete cabem somente aos governos, não ao esporte. Porém, protestos são esperados durante o evento, mesmo sob o risco de punição aos atletas.
Por ora, entretanto, a ação parece não surtir efeito. As sanções impostas pelo Ocidente são rebatidas com outras impostas por Beijing. E mesmo as vias diplomáticas não funcionam, com o governo da China cercado de aliados, quase sempre nações que dependem dos bilionários investimentos chineses mundo afora.
“O governo chinês só vai reagir até certo ponto às resistências que vêm principalmente do Ocidente”, disse Thum. “Uma resposta global seria diferente, mas é difícil imaginar, dado o número de países que dependem do envolvimento econômico chinês no momento”.
Por que isso importa?
A comunidade uigur habita a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China. A província faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e linguísticas.
Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.
Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014. O governo chinês admite a existência de tais campos, que abrigam mais de um milhão de pessoas, mas alega que eles servem para educação contraterrorismo.
O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.
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