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domingo, 28 de novembro de 2021

Estudo diz que China esconde procedência para evitar boicote ao algodão de Xinjiang

Uma pesquisa da Universidade Sheffield Hallam, na Inglaterra, afirma que mais de cem empresas em todo o mundo vendem, sem saber, roupas produzidas com algodão da província de Xinjiang, na China. O material é rejeitado por inúmeras empresas devido às suspeitas de uso de trabalho forçado na região. As informações são da rede Voice of America.

O estudo afirma que cinco grandes fornecedores de fios e tecidos chineses usam algodão de Xinjiang, mas criaram uma rota de intermediários que acaba por omitir a procedência. Os produtos são exportados semiacabados para fabricantes intermediários internacionais, que por sua vez enviam produtos finalizados para marcas de todo o mundo. Incluindo dos EUA, que sancionaram o algodão da região e, assim, proíbem sua utilização.

Segundo Laura Murphy, autora do estudo e professora de direitos humanos na universidade, aproximadamente 85% do algodão produzido na China vem de Xinjiang, onde Beijing é acusada de uma série de abusos contra pessoas da etnia uigur. “Por meio desse processo, pudemos mapear as prováveis cadeias de suprimentos que conectam o algodão de Xinjiang a mais de cem marcas internacionais”, afirma o relatório.

Vista aérea de Urumqi, capital da província chinesa de Xinjiang, em julho de 2017 (Foto: WikiCommons/ Anagoria)

O relatório com o resultado da pesquisa afirma, ainda, que algumas instalações nas quais o algodão é processado se “localizam nas proximidades ou dentro de uma prisão ou campo”, referindo-se aos campos de detenção onde os uigures são aprisionados.

Segundo o documento, 52% do algodão, dos fios e tecidos exportados pela China são enviados para 53 fabricantes intermediários em Bangladesh, Sri Lanka, Vietnã, Filipinas, Hong Kong, Indonésia , Camboja, Índia, Paquistão, Quênia, Etiópia e México. É nesses países que as roupas são finalizadas e fornecidas a 103 marcas globais conhecidas. O que leva muitas delas a comprar produtos sancionados sem saber.

Segundo Murphy, a única forma de evitar o erro é rastrear as fontes de matéria-prima através de suas cadeias de abastecimento. “Cadeias de suprimentos complexas podem obscurecer a fonte de matérias-primas”, disse Ela. “Às vezes, os fornecedores podem ocultar suas fontes ou combinar diferentes fontes de algodão”.

Lista de restrições

Em julho, os Estados Unidos acrescentaram 14 empresas chinesas à sua lista de restrições de comércio, sob a alegação de estarem associadas aos abusos cometidos contra a minoria uigur. O Departamento de Comércio alega que as empresas “permitiram a campanha de repressão, detenção em massa e vigilância de alta tecnologia de Beijing contra uigures, cazaques e membros de outros grupos minoritários muçulmanos” na província chinesa de Xinjiang.

Mais recentemente, em outubro, a Universal Eletronics Inc. (UEI), empresa norte-americana que fabrica controles remotos para algumas das gigantes da tecnologia global, admitiu ter firmado um acordo com o governo da província para empregar cerca de 400 pessoas da etnia uigur. Foi o primeiro caso de uma companhia dos EUA suspeita de ligação com um sistema laboral classificado como trabalho forçado.

A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, afirma que o trabalho forçado uigur é “a maior mentira do século”. “Os Estados Unidos tanto criam mentiras quanto tomam ações flagrantes com base em suas mentiras para violar as regras do comércio internacional e os princípios da economia de mercado”, disse ele em coletiva de imprensa em janeiro.

Por que isso importa?

A comunidade uigur é uma minoria muçulmana de raízes turcas que habita a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China. A província faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e linguísticas.

Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses.

Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.

Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014. O governo chinês admite a existência de tais campos, que abrigam mais de um milhão de pessoas, mas alega que eles servem para educação contraterrorismo.

O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.

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