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quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Presidente ucraniano impediu operação que prenderia 33 mercenários russos

A prisão de 33 mercenários russos, que ocorreria após uma suposta conspiração conjunta de agências de inteligência da Ucrânia, foi por água abaixo depois que uma ordem vinda do gabinete presidencial do líder Volodymyr Zelenskiy pediu que a operação fosse abortada, revelaram os veículos investigativos The Insider, da Rússia, e o Bellingcat, da Holanda. As informações são da Radio Free Europe.

O episódio foi revelado após um trabalho investigativo que levou um ano para ser concluído, divulgado nesta quarta-feira (17). Nele, os veículos afirmam que a inteligência militar ucraniana tinha planos de, sob falso pretexto, desviar a rota de um avião e forçar o pouso no país com dezenas de paramilitares russos ligados ao Wagner Group a bordo, que voava de Belarus à Turquia em junho de 2020.

O pouso forçado seria o desfecho de uma ação policial idealizada entre o serviço de inteligência militar do país e o departamento de contra-espionagem do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU). Segundo aponta a investigação jornalística, com a aeronave em terra, os combatentes, que atuaram no suporte a forças antigovernamentais com o apoio de Moscou em Donbass, receberiam voz de prisão.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, em Kiev, abril de 2021 (Foto: Reprodução/Twitter/Volodymyr Zelenskiy)

O plano começou a dar errado quando, a poucos dias da decolagem do avião de Minsk rumo a Istambul, o presidente Zelenskiy acenou positivamente para um cessar-fogo no conflito na região oriental da Ucrânia. Segundo a reportagem, Vasyl Burba, chefe da inteligência militar à época e responsável por supervisionar a operação, disse que o gabinete presidencial adiou a operação policial por vários dias devido a temores de que isso prejudicaria o acordo de trégua.

“De acordo com Burba, a posição do Gabinete era que se a operação policial continuasse como planejado e culminasse com prisões em 25 de julho, o cessar-fogo estaria morto antes de começar”, relatou o trabalho do Bellingcat e The Insider.

Zelenskiy, o chefe de Gabinete Andriy Yermak e as agências de inteligência do país negam que as autoridades ucranianas tenham idealizado o suposto plano, que poderia ter repercutido em um alvoroço internacional se tivesse sido orquestrado, particularmente pelo fato de que é ilegal desviar um avião sob falsos pretextos.

Em comentário à reportagem da Radio Free Europe nesta quarta (17), após a publicação do trabalho investigativo, a assessoria de Zelenskiy disse que “é política do Gabinete do Presidente e do governo ucraniano não comentar sobre a existência ou não existência de quaisquer operações de inteligência”.

Comissão inconclusiva

O Bellingcat e o The Insider afirmam que a reportagem foi sustentada com base em “entrevistas com indivíduos envolvidos na operação, uma grande quantidade de evidências documentais e verificação de código aberto das alegações”. Segundo ambos veículos, várias fontes falaram sob anonimato por segurança ou por não estarem autorizadas a falar.

A reportagem contradiz diretamente uma das conclusões anunciadas no dia anterior por uma comissão parlamentar ucraniana criada para investigar o assunto.

A chefe do comitê, Maryana Bezuhla, declarou à imprensa na segunda-feira (15) que não havia evidências de que Zelenskiy tivesse adiado a operação. A comissão não foi capaz de determinar quem ou o que causou o adiamento.

Presos em Belarus

Os mercenários chegaram a Belarus em 25 de julho e foram presos quatro dias depois pela KGB belorussa em um hotel nos arredores de Minsk. Eles foram acusados pela Justiça local de tentar desestabilizar o país antes das eleições presidenciais de 9 de agosto, nas quais o autoritário Alexander Lukashenko, no poder desde 1994, enfrentou um espinhoso desafio da oposição pró-democracia. Mais tarde, os combatentes foram enviados de volta para a Rússia.

A reportagem levantou que a maioria dos homens visados ​​na operação “em algum momento serviram como mercenários” para o Grupo Wagner na Ucrânia, Síria, Líbia ou República Centro-Africana (CAR). A saga ficou conhecida na Ucrânia como “Wagnergate”.

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