O turco Enes Kanter, jogador de basquete do time norte-americano do Boston Celtics, usou suas redes sociais para fazer duras críticas ao governo da China, em particular ao presidente Xi Jinping. Entre elas, acusou Beijing de comandar um esquema de extração forçada de órgãos para transplantes, suspeita que já havia sido levantada por especialistas em direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas).
O pivô atua há dez anos na NBA (Associação Nacional de Basquete, da sigla em inglês), a liga profissional do esporte nos EUA. Crítico do presidente turco Recep Erdogan e defensor de causas ligadas aos direitos humanos, ele teve o passaporte turco cancelado pelo governo de seu país e obteve a cidadania norte-americana. Alvo de ameaças de morte, ele evita viajar ao exterior e mantém contato permanente com as agências de segurança norte-americanas para o caso de sofrer algum tipo de violência.
Ultimamente, a China tem sido o principal alvo de Kanter. “O governo chinês se envolve na extração forçada de órgãos. Grupos étnicos e religiosos, incluindo tibetanos, uigures em campos de extermínio, cristãos e praticantes do Falun Gong, são todos visados. Fígado, rim, coração… Parem de matar por órgãos. É um crime contra a humanidade. Acabar com a extração forçada de órgãos na China, AGORA!!!”, disse ele em sua conta no Instagram.
Antes de citar a extração forçada de órgãos, Kanter havia criticado o presidente Xi Jinping, a quem chamou de “ditador” e “maníaco por controle”. “A tecnologia de vigilância do governo chinês está criando um banco de dados sobre todos, monitorando a vida cotidiana, exigindo lealdade ao partido. silenciando qualquer coisa e qualquer pessoa que considerem uma ameaça. Esse autoritarismo digital é uma ameaça às democracias”, disse ele em outro post.
As manifestações do pivô levaram o governo da China a proibir que jogos do Boston Celtics sejam transmitidos na televisão do país. Algo que já havia acontecido com outro time da liga, o Houston Rockets, sancionado em 2019, quando seu então diretor geral, Daryl Morey, manifestou apoio aos protestos por democracia em Hong Kong. O time só voltou às telas chinesas em janeiro deste ano.
Denúncia da ONU
As primeiras denúncias de extração forçada de órgãos pelo governo chinês remetem ao início dos anos 2000. As vítimas seriam praticantes do Falun Gong, movimento com base no budismo e no taoísmo que sofre uma campanha nacional do Partido Comunista Chinês (PCC) destinada a erradicar sua prática. A ONU afirmou que, à época, foi impossível apurar as denúncias devido à falta de colaboração de Beijing.
Em junho de 2021, o escritório de direitos humanos da ONU trouxe a questão à tona novamente, ampliando a lista de possíveis vítimas. Especialistas em direitos humanos convocados pela entidade teriam recebido “informações credíveis” de que a prática ocorre no país asiático.
“A extração forçada de órgãos na China parece ter como alvo minorias étnicas, linguísticas ou religiosas específicas mantidas em detenção, muitas vezes sem que sejam explicados os motivos da prisão ou expedidos mandados de prisão, em diferentes locais”, disseram os especialistas da ONU. “Estamos profundamente preocupados com relatos de tratamento discriminatório de prisioneiros ou detidos com base em sua etnia e religião ou crença.
Entre as vítimas da extração de órgãos estariam os uigures, minoria muçulmana de raízes turcas que habita a região autônoma de Xinjiang e é perseguida pelo governo. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa na região.
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