O Taleban definiu no final da última semana alguns dos novos governadores provinciais do Afeganistão. O escolhido para governar Cabul, a mais populosa província do país e onde se localiza a capital nacional, é Qari Baryal, comandante talibã responsável por inúmeros ataques contras as forças estrangeiras dos Estados Unidos e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). As informações são do site norte-americano FDD’s Long War Journal.
Baryal chegou a ser descrito pelas forças armadas dos EUA como “um líder talibã associado à al-Qaeda”. Há indícios de que as ações dele tenham sido financiadas pela Guarda Revolucionária do Irã, um grupo de elite das forças armadas iranianas fundado nos anos 1970 e que ganhou enorme poder político e econômico com o passar dos anos.
No Afeganistão ocupado, o comandante talibã era encarregado de um destacamento batizado Grupo Qari Baryal, que contava com até 200 homens para realizar seus ataques contra as forças de ocupação e do governo afegão. As províncias de atuação dele eram Cabul, Kapisa, Parwan, Panjshir e Konar.
Além de realizar os ataques, o grupo liderado por Baryal trabalhava para facilitar o transporte de armas, explosivos e homens-bomba através da fronteira do Paquistão até Cabul. Um relatório da inteligência norte-americana revelado recentemente diz que ele estava “envolvido na supervisão da produção de IED (dispositivos explosivos improvisados, da sigla em inglês), alocação de pessoal suicida e planejamento e execução geral de ataque”.
O destacamento era parte dos que os EUA e a OTAN chamavam Rede de Ataque de Cabul, que reuniu combatentes e recursos do Taleban, da Al-Qaeda e de outros grupos extremistas a fim de realizarem ataques sobretudo em Cabul e seus arredores.
Baryal é o segundo importante comandante da Rede de Ataque a ser nomeado para ocupar um cargo-chave no novo governo de Taleban. No início de setembro de 2021, o mulá Taj Mir Jawal, um dos dois principais líderes da Rede de Ataque de Cabul, foi nomeado vice-comandante da inteligência talibã.
Os novos governantes afegãos também apontaram nesta semana o governador da província de Logar. Trata-se de Haji Mali Khan, uma importante figura da Rede Haqqani, grupo extremista originário do Paquistão que passou a atuar sobretudo no leste do Afeganistão e em Cabul nos tempos da ocupação estrangeira. Khan é tio de Sirajuddin Haqqani, idealizador da Rede e atual ministro do Interior talibã.
Por que isso importa?
Desde que assumiu o poder, no dia 15 de agosto, o Taleban busca reconhecimento internacional como governo de fato do que chama de “Emirado Islâmico“. O grupo extremista chegou a se reunir com autoridades da ONU (Organização das Nações Unidas) a fim de garantir que a assistência humanitária seja mantida no país. A ONU, porém, recusou o pedido para que um enviado talibã discursasse na recente Assembleia Geral do órgão.
Representantes do Reino Unido também receberam autoridades talibãs, e na ocasião pressionaram para que cidadãos britânicos fossem autorizados a deixar o Afeganistão, além de questionarem sobre os direitos das mulheres. Rússia, Irã, China, Uzbequistão, Turcomenistão e Paquistão estão entre as nações que mantém contato mais próximo com os novos governantes afegãos.
Mais recentemente, em novembro, o governo do Paquistão recebeu representantes de China, Rússia e Estados Unidos para conversas sobre o Afeganistão. O encontro em Islamabad ocorreu ao mesmo tempo em que uma delegação do Taleban, liderada pelo ministro das Relações Exteriores Amir Khan Muttaqi, chegava ao país.
Até agora, porém, nenhuma nação reconheceu formalmente o Taleban como poder legítimo no país. Mais do que legitimar o poder talibã internacionalmente, esse reconhecimento é crucial para fortalecer financeiramente um país pobre e sem perspectivas imediatas de gerar riqueza. Inclusive, os Estados Unidos, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortaram o acesso de Cabul a mais de US$ 9,5 bilhões em empréstimos, fundos e ativos.
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