O Taleban anunciou na quarta-feira (10) que capturou cerca de 600 integrantes do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) desde que assumiu o governo do Afeganistão, no dia 15 de agosto. Entre os capturados estariam figuras proeminentes do grupo, segundo informações do serviço de inteligência afegão reproduzidas pela rede Voice of America (VOA).
“Esses homens ligados ao Daesh (sigla usada para denominar o estado Islâmico e tida como depreciativa por seus líderes) agora estão sendo mantidos em prisões sob forte segurança”, disse Kahlil Hamraz, porta-voz do Diretório Geral de Inteligência, o serviço secreto talibã.
Ainda segundo Hamraz, as operações em andamento contra o EI-K também mataram aproximadamente 40 militantes do grupo rival, que tem realizado ataques frequentes no país que já mataram centenas de pessoas.
O porta-voz da inteligência talibã acusa o antigo governo afegão, deposto com a tomada de Cabul pelo Taleban, de ter libertado cerca de 1,8 mil combatentes do EI-K que estavam encarcerados, além de outros criminosos, pouco antes de deixar o poder. Seriam esses homens os responsáveis pelas recentes ações violentas no país, entre elas a explosão de uma mesquita de Kunduz e o ataque a um hospital de Cabul.
EUA se posicionam
A declaração do Taleban sobre a captura dos inimigos surge em meio à preocupação de Washington com o crescimento da fação do Estado Islâmico (EI) no Afeganistão. “A comunidade de inteligência avalia atualmente que tanto o EI-K quanto a Al-Qaeda têm a intenção de realizar operações externas, inclusive contra os Estados Unidos, mas nenhum dos dois tem atualmente a capacidade de fazê-lo. Podemos ver o EI-K gerar essa capacidade em algo entre seis e 12 meses”, disse no final de outubro Colin Kahl, terceiro nome na hierarquia de lideranças do Pentágono.
Segundo Kahl, não está claro se os talibãs terão como enfrentar o rival, cujo ponto fraco é a falta de estrutura. “Eles têm um quadro de alguns milhares de pessoas, algumas das quais adorariam realizar ataques externos”, afirmou. “Acho que devemos estar vigilantes para um subconjunto do EI-K que possa desenvolver os recursos e a capacidade de atacar a pátria dos EUA”.
Na última semana, Thomas West, representante especial dos Estados Unidos para o Afeganistão, foi mais objetivo e deu um voto de confiança ao Taleban. “Condenamos a perda inocente de vidas afegãs que ocorreram nas últimas semanas nas mãos de violentos ataques do EI-K em todo o país. Estamos preocupados com o aumento dos ataques do EI-K e queremos que o Taleban tenha sucesso contra eles”.
Por que isso importa?
No Afeganistão, o EI-K tende a ser o principal opositor doméstico do Taleban. O grupo trata os talibãs como apóstatas, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática. Isso tornaria válido o assassinatos de combatentes do Taleban, conforme a interpretação das leis islâmicas.
Militarmente, porém, a vantagem no Afeganistão é do Taleban, que fortaleceu seu arsenal durante e após a retirada de tropas estrangeiras do país e tende a agregar novos recrutas agora que governa o país. São cidadãos afegãos e mesmo estrangeiros que buscam proteção e meios para sobreviver.
O que distancia os dois grupos é a base ideológica. O Taleban é adepto de uma interpretação do Islã que defende a subserviência da mulher, proíbe muitas tecnologias e o entretenimento, aceitando apenas o conhecimento inspirado por Deus. Já o EI-K prega ideologia ultraconservadora do islamismo Sunita, apoiando a Sharia (lei islâmica) e castigos corporais. Acredita que o mundo deveria seguir os preceitos históricos do Islamismo.
No Brasil
Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.
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