Após ter sua exposição ameaçada por um pedido de cancelamento por parte da embaixada da China na Itália, um o cartunista chinês Badiucao recebeu a confirmação de que terá seu trabalho exibido na cidade de Brescia, anunciou o prefeito local na sexta-feira (5). As informações são do jornal independente Hong Kong Free Press.
O dissidente Badiucao, conhecido como “o Banksy chinês” (comparação feita ao famoso grafiteiro e ativista britânico), é célebre por sua obra que denuncia a repressão política no seu país de origem, bem como faz críticas à censura de informações relacionadas ao coronavírus.
A mostra, intitulada “A China (não) está perto”, está marcada para ocorrer de 13 de novembro a 13 de fevereiro. O prefeito de Brescia, Emilio Del Bono, declarou ao jornal Il Foglio que seu gabinete não atenderia a um pedido da embaixada chinesa no país para não realizar o evento.
À reportagem, o político sustentou que a amizade entre os países “não está em questão”, mas que acha “importante mostrar que você pode continuar amigo enquanto critica algumas coisas”. O argumento de Del Bono foi corroborado pela sua vice, Laura Castelletti, que escreveu em seu Twitter que “para nós, arte e liberdade de expressão são uma combinação essencial”, em um post que ainda mostrou prints de reportagens de jornais sobre o suposto pedido de censura do Escritório de Assuntos Culturais da embaixada chinesa em Roma.
“Credo che sia molto importante ciò che hanno fatto @BresciaMusei e il Sindaco @ComuneBs: non hanno ceduto alle pressioni e hanno difeso l’arte e la libertà di espressione” @badiucao @repubblica A #Brescia prima mostra italiana dell’artista dissidente cinese #laCinaénonévicina pic.twitter.com/9FhEujcYt7
— Laura Castelletti (@LauCastelletti) October 25, 2021
O jornal local Giornale di Brescia fez menção a uma carta remetida pelo escritório cultural ao conselho, na qual acusava as obras de Badiucao a estarem “cheias de mentiras anti-chinesas”. O documento ainda alegou que os trabalhos realizados pelo artista “distorcem os fatos e espalham informações falsas”, além de “colocar em risco as relações amigáveis entre a China e a Itália”.
O departamento da embaixada chinesa encerrou a mensagem manifestando “forte insatisfação” com a exposição e pedindo ao município “que aja rapidamente para cancelar as atividades acima mencionadas”. A assessoria do escritório diplomático não se manifestou sobre o episódio.
Badiucao, radicado na Austrália, se autodenomina nas redes sociais um “Artista Chinês-Aussie caçado pelo PCC [Partido Comunista Chinês]”. Segundo ele, a mostra em Brescia será sua primeira exposição individual internacional.
Por que isso importa?
A repressão imposta pela China a seus próprios cidadãos já começa a ultrapassar as próprias fronteiras. Artigo publicado no final de outubro pela revista Foreign Policy mostra como o PCC, fazendo uso da lei de segurança nacional de Hong Kong, tem poder para calar críticos que vivem a milhares de quilômetros de distância.
Aconteceu, por exemplo, com o empresário britânico Bill Browder, alertado pelo Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido a não viajar para países que honrem os tratados de extradição com Hong Kong. Ativista em defesa de sanções contra funcionários do governo britânico cúmplices de abusos dos direitos humanos, ele poderia ser preso e extraditado para o território controlado pela China por seu discurso crítico contra os abusos cometidos pelo PCC.
Isso porque a lei de segurança nacional prevê a acusação de qualquer pessoa, em qualquer lugar, por discurso considerado hostil aos interesses de segurança chineses. “Os ditames da China afetam os esportes, Hollywood, o mundo editorial, os meios de comunicação e o jornalismo, o ensino superior, as empresas de tecnologia e mídia social e muito mais”, diz o artigo.
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