Roman Dobrokhotov, editor-chefe do site investigativo The Insider, designado como “agente estrangeiro” por ter denunciado o envenenamento do político da oposição Alexei Navalny, enfrenta nova acusação da Justiça russa. Nesta quinta-feira (30), ele foi denunciado por cruzar a fronteira ilegalmente e, agora, figura em uma lista de procurados da FSB (Agência Nacional de Segurança, da sigla em inglês), informou o jornal britânico The Guardian.
De acordo com a FSB,
Dobrokhotov teria atravessado a fronteira da Rússia com a Ucrânia rumo à região de Luhansk, em agosto, “secretamente e a pé, contornando os postos de controle estabelecidos”. O território é controlado por separatistas apoiados pelo Kremlin.Diante da violação, a agência de inteligência comunicou que pretendia incluir o jornalista em uma lista de procurados com o “objetivo de prendê-lo e processá-lo”. Se condenado, a pena máxima pode chegar a dois anos de prisão.
Na quinta de manhã, foram realizadas buscas no apartamento de Dobrokhotov e na casa de seus pais, disse a advogada do jornalista ao Insider. Ele teve telefones, computadores e outros dispositivos apreendidos.
Dobrokhotov confirmou a diligência e a investigação criminal no Twitter. “As buscas são realizadas no âmbito do artigo sobre ‘passagem ilegal de fronteira'”, escreveu em sua conta oficial.
Обыски проходят по статье о «незаконном пересечении границы» снова изымают все телефоны и компы, сейчас повезут на допрос
— Roman Dobrokhotov (@Dobrokhotov) September 30, 2021
Segundo o The Insider, o pai e a esposa de Dobrokhotov foram conduzidos para um interrogatório. O veículo também confirmou que o jornalista deixou a Rússia, sem revelar seu paradeiro ou como ele chegou, alegando “razões de segurança” e dizendo que ele está “sempre em movimento”.
Não é a primeira vez que a polícia realiza uma ação de busca contra o jornalista. Em agosto, outra batida confiscou celulares, laptop, tablets e o passaporte de Dobrokhotov, o que o impediu de viajar ao exterior no dia da ocorrência. Os itens não foram devolvidos.Por que isso importa?
Em julho, após a publicação de reportagens desfavoráveis ao presidente Vladimir Putin, a Rússia declarou o The Insider e cinco jornalistas do veículo como “agentes estrangeiros”. A medida seria um ato de vingança contra a mídia independente por ajudar a revelar o papel do Kremlin nos envenenamentos de Salisbury e em outras tentativas de assassinato da FSB.
A designação de “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. A classificação acaba por afastar potenciais parceiros e anunciantes e muitas vezes sufoca financeiramente os veículos, obrigados ainda a fornecer ao governo relatórios detalhados sobre suas finanças e atividades.
Jornalistas independentes ou representantes de veículos de mídia que tenham se esquivado das exigências três vezes após terem o nome incluído na lista podem pegar pena de até dois anos de prisão, de acordo com o código penal russo.
Em setembro, às vésperas das eleições parlamentares,
Dobrokhotov acusou o Kremlin de “destruir a mídia” no país. Jornalistas e veículos de imprensa críticos ao governo são alvo de uma perseguição que tem o respaldo da Justiça do país.O post Rússia emite mandado de prisão contra jornalista que denunciou envenenamento apareceu primeiro em A Referência.
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