Ao longo do último ano de pandemia, o presidente da Tanzânia, John Magufuli, se dedicou a minimizar a gravidade do novo coronavírus, bloquear o envio de dados do contágio à OMS (Organização Mundial da Saúde) e afirmar que seu país estava “protegido por Deus” da Covid-19.
Nesta quarta-feira (17), o mais aguerrido negacionista entre os chefes de Estado morreu aos 61 anos: oficialmente, de “problemas cardíacos”. Fora dos círculos governistas, porém, especula-se que Magufuli morreu de Covid-19.
Autoridades do país, de 57 milhões de habitantes e localizado na África Oriental, confirmou a morte após semanas de especulação sobre seu paradeiro. O chefe de Estado não era visto desde 27 de fevereiro, o que levantou rumores de que teria sido hospitalizado no vizinho Quênia por complicações da doença.
A vice-presidente, Samia Suluhu Hassan, porém, afirmou que Magufuli morreu de uma “doença cardíaca” que combatia há dez anos. A Tanzânia decretou 14 dias de luto oficial, informou a Reuters.
A política presidencial de negação ao vírus fez com que a Tanzânia parasse de contabilizar as contaminações ainda em maio de 2020. No mesmo ano, Magufuli foi “reeleito” para um segundo mandato com 84% dos votos, em um pleito maculado por múltiplas denúncias de autoritarismo e fraude.
A eleição contribuiu para novos episódios de desestabilização no país: enquanto a oposição denunciava irregularidades e rejeitava os resultados, militares aumentaram a violência contra os dissidentes. Candidatos opositores, como o rival nas eleições Tundu Lissu, deixaram a Tanzânia em novembro.
Quem foi John Magufuli
Em 2015, o nome de Magufuli emergiu como solução para concorrer às eleições por não ser o “favorito”, em meio a um impasse entre as principais divisões do CCM (Partido Revolucionário), que controla a Tanzânia. A sigla domina o país desde 1977, mas realiza eleições multipartidárias desde 1994.
A imagem de Magufuli como um homem flexível e que defendia a abertura política e econômica, porém, foi substituída pela de um líder autoritário. Quase imediatamente depois da posse, um importante político da oposição foi baleado na capital Dodoma, enquanto ativistas e jornalistas logo começaram a desaparecer. Corpos surgiram nas margens da Praia do Coco, em Dar es Salaam, maior cidade do país.
“Sem Magufuli, a Tanzânia tem a chance de renovar sua democracia e tentar lutar contra o vírus”, escreveu a revista britânica “The Economist”. Com a morte do político, Hassan, que trabalhou para o Programa Mundial de Alimentos, se torna a primeira presidente mulher da Tanzânia. Ela deve permanecer no cargo pelos próximos cinco anos.
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