Depois de seis dias, o enorme navio de contêineres que bloqueava o Canal de Suez, no Egito, voltou a flutuar nesta segunda-feira (29), informou a Reuters. Com o desencalhe, foi liberado o acesso à rota mais curta entre o Mar Vermelho e o Mediterrâneo por onde passa cerca de 10% do comércio internacional por via marítima.
Por trás do acidente, que interrompeu a passagem de 369 embarcações, há uma história de mais de quatro mil anos. Inaugurado em novembro de 1869, o Canal de Suez representou uma abertura entre a Europa e a Ásia e cujo papel é até hoje fundamental para o trânsito de mercadorias e matérias-primas para todo o mundo.
A escavação dos 154 quilômetros do Canal levou dez anos para ser concluída e contou com o trabalho de um milhão de operários egípcios. A rota permitiu que os navios não tivessem que contornar o continente africano para chegar a Ásia – uma longa travessia via Cabo da Boa Esperança, na África do Sul.
Projeto de faraós
No século 19 antes da era cristã, o reinado de Sesóstris III ordenou a escavação do primeiro canal entre o Golfo de Suez e o delta do Rio Nilo. O projeto seguiu entre idas e vindas até o século 8, quando foi abandonado pelo alto custo.
Novos estudos foram realizados pelos venezianos – que também acompanharam Napoleão Bonaparte em sua expedição ao Egito –, a partir do século 16. A ascensão de Said Pacha como vice-rei do Egito, em 1854, impulsiona a retomada do antigo projeto.
Em novembro daquele ano, Pacha assina uma concessão de 99 anos para que o diplomata francês, Ferdinand de Lesseps, comece a cavar o Canal de Suez. A obra é iniciada no ano seguinte e contava com o apoio do imperador Napoleão III e da imperatriz Eugênia, que captam mais da metade dos recursos necessários à obra. Dez anos depois, o canal é inaugurado.
Conflitos
Pacha, que detinha metade das ações do projeto, vendeu sua parte ao governo britânico em 1875. Cinco anos depois, vende sua participação nos lucros ao banco francês Crédit Foncier – o que transforma o Canal de Suez em uma questão franco-britânica.
Em 1888, os países assinam um tratado para outorgar um estatuto internacional à passagem. Desde então, todos os barcos, sem exceção, podem transitar pelo local em tempos de guerra ou de paz. Mas nem sempre houve obediência a essa regra: em julho de 1956, o então presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionaliza a Companhia do Canal de Suez para financiar a represa de Assuan, no sul do país.
No mesmo ano, Israel atacou o Egito na península do Sinai e a resposta foi imediata: bombardeios franco-britânicos destruíram parte das instalações da Aviação militar egípcia. Os ataques só cessaram após uma semana, quando o Egito obstruiu o canal afundando navios. O Canal de Suez permanece fechado e fluxos de navegação até março de 1957.
Interrupção
A Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, também causou a interrupção do fluxo no Canal de Suez. À época, o Exército israelense iniciou a ocupação do lado oriental da rota, que precisou ser fechada para navegação. No conflito árabe-israelense de outubro de 1973, os egípcios atravessam o canal rumo à Península do Sinai para bloquear o acesso de Israel e bloquear possíveis contraofensivas.
O conflito iminente faz com que a força de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) se mobilize no local. Os dois lados voltam a passar pelo controle egípcio em fevereiro de 1974, após um acordo entre as partes. O Canal de Suez é reaberto em 5 de junho de 1975 – e permanece assim até o bloqueio não intencional causado pelo navio Ever Given, em março de 2021.
Rota vital para o comércio
O aumento da frota mundial motivou diversas ampliações do Canal de Suez. Em 2015, a rota alcançou 193,30 quilômetros de comprimento e 24 metros de profundidade. Navios de até 240 mil toneladas e 20,1 metros navegam pelo canal, que recebe uma média de 50 embarcações por dia.
Em 1869, ano da inauguração, a rota permitia apenas três navios por vez. Uma nova ampliação deve favorecer o tráfego de até 100 barcos por dia em 2023.
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