Líderes do grupo fundamentalista islâmico Al-Shabaab pediram que os muçulmanos da Somália rejeitem a imunização das vacinas contra a Covid-19. Em comunicado desta terça (30), o grupo afiliado à Al-Qaeda defende que as doses “fazem mais mal do que bem”.
O comunicado faz referência ao primeiro lote da AstraZeneca-Oxford, enviado via iniciativa Covax. O país africano recebeu sua primeira remessa de 300 mil doses no dia 15. Ao todo, a Somália deve receber 1,2 milhão de vacinas por meio da OMS (Organização Mundial da Saúde).
O Al-Shabaab, porém, insiste que a população não faça uso dos medicamentos. O grupo alega que as vacinas já causaram “diversos efeitos adversos” ao redor do mundo. A nota cita o exemplo da suspensão da vacinação após suspeitas de embolia pulmonar na França, na Alemanha e na Espanha.
O texto cita ainda que as doses da AstraZeneca são produzidas com componentes suínos – de consumo proibido aos islâmicos. Em vez disso, os muçulmanos somalis deverão confiar nos “medicamentos prescritos no Alcorão e na Sunah”, as principais fontes das leis islâmicas. Um dos “remédios” citados é o mel.
Na Somália, 99% da população de 15,5 milhões é muçulmana. O Al-Shabaab obteve seus maiores avanços a partir de 2012, quando se aliou à Al-Qaeda. A organização é o braço violento do salafismo, vertente conservadora do Islã, no Chifre da África.
Alerta contra agências humanitárias
No documento, o Al-Shabaab também pede que os muçulmanos “não acreditem” nas organizações que transportam as vacinas, como a OMS e a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
“Por mais de três décadas, essas instituições exacerbam a seca, doenças e pobreza na Somália e em outros países muçulmanos. Os somalis não devem esperar nenhum sentimento de altruísmo desses descrentes e suas organizações”, diz o texto.
Essa oposição às agências internacionais dificulta o acesso de ajuda humanitária à Somália, um dos países mais afetados pela violência jihadista. O Al-Shabaab controla áreas no sul do país, onde é comum que soldados de paz da União Africana morram em emboscadas e bombardeios.
Dados apontam que os extremistas estiveram em 440 episódios violentos no país entre julho e setembro – o maior número desde 2018.
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