O anúncio prévio da renúncia do primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, no domingo (28), visa antecipar as eleições e, assim, tentar driblar a crise política que tomou o país do Cáucaso desde a derrota em Nagorno-Karabakh.
O conflito, que antes se restringia à região separatista na disputa contra o Azerbaijão, ganhou espaço depois que Pashinyan assinou o acordo de cessar-fogo mediado pela Rússia, em novembro.
Pashinyan anunciou que permanecerá no cargo até as eleições parlamentares de 20 de junho – segundo ele, a “melhor maneira” de sair da atual crise interna. “Vou renunciar não por renunciar, mas para que haja eleições antecipadas”, disse o premiê em um vídeo publicado em sua página no Facebook.
O acordo com o Azerbaijão, assinado em novembro, foi visto como uma “vergonha nacional” para a Armênia. No tratado, Yerevan entregou partes do território disputado de Nagorno-Karabakh ao Azerbaijão e permitiu que as forças de paz russas entrassem em regiões controladas pelos armênios há mais de 30 anos.
Os protestos que se seguiram envolveram opositores e aliados de Pashinyan, aprofundando a divisão no país. O primeiro-ministro chegou ao poder em 2018, quando liderou um movimento pacífico pela saída do antigo governo, aliado a Moscou.
Sob sua gestão, a Armênia manteve relações frias com a Rússia e buscou cooperação com a UE (União Europeia) e com os EUA. Moscou, porém, continuou como principal aliado militar da ex-nação soviética.
Saída gera tensão
Uma análise do think tank norte-americano Council of Foreign Relations aponta que a instabilidade e a crise prolongada na Armênia podem colocar em risco a frágil trégua no conflito de Nagorno-Karabakh.
Mesmo se o governo de Pashinyan sobreviver às eleições, já há prejuízo a sua autoridade enquanto houver forte oposição à trégua negociada em novembro.
Além disso, alguns pontos sobre o acordo de paz geram dúvida, como o mandato para os 1,9 mil soldados russos na região e o status de Nagorno-Karabakh. Entre fevereiro e março, houve novo pico de tensões na região, quando a Armênia e o Azerbaijão anunciaram que realizavam exercícios militares em grande escala.
A comunidade internacional reconhece Nagorno-Karabakh como azeri, mas forças de Yerevan ocupavam cidades do território – de maioria etnicamente armênia – desde o início dos anos 1990.
O conflito em Nagorno-Karabakh recomeçou em julho de 2020 e se estendeu até novembro, quando as forças do Azerbaijão, apoiadas pela Turquia, cercaram a capital regional Stepanakert e forçaram as tropas da Armênia a recuar. O saldo de mortos chegou a seis mil.
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