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quinta-feira, 25 de março de 2021

Troca de chefia no Banco Central da Turquia gera instabilidade e queda da lira

A demissão do respeitado ex-ministro das Finanças, Naci Agbal, e a nomeação do acadêmico pouco ortodoxo Sahap Kavcioglu para comandar o Banco Central gerou instabilidade na economia da Turquia nesta quarta (24).

A entrada de Kavcioglu, alinhado com o presidente Recep Tayyip Erdogan, logo causou uma queda de 14% na lira – moeda já desvalorizada, em compasso com a inflação crônica do país, registrou o britânico “Financial Times”.

A lira perdeu um quinto de seu valor em 2020 e, agora, enfrenta obrigações de dívida de curto prazo de cerca de US$ 180 bilhões – o que empurra a moeda turca para um posto de especial vulnerabilidade. Hoje uma lira representa US$ 0,13 – o equivalente a R$ 0,74.

Troca de chefia no Banco Central da Turquia gera instabilidade e queda da lira
O novo diretor do Banco Central da Turquia, Sahap Kavcioglu, em seu primeiro pronunciamento após a posse, 24 de março de 2021 (Foto: Reprodução/Twitter Sahap Kavcioglu)

Ao contrário de Agbal, que prometia uma política monetária rígida, o novo diretor aposta em linhas pouco convencionais para alcançar o objetivo de Erdogan: juros e inflação baixos.

Kavcioglu já argumentou que as altas taxas de juros “impulsionam a inflação” – visão pouco aderente às teorias econômicas dominantes. Para muitos economistas, a maneira mais simples de acalmar a oscilação do câmbio e manter a inflação sob algum controle é aumentar as taxas de juros.

O ex-presidente do BC Agbal assumiu o cargo após a renúncia do genro do presidente, Berat Albayrak, ainda em novembro.

A demissão veio por decreto presidencial no domingo (20), depois que a autoridade monetária turca elevou a taxa básica de juros para 19%, na quinta (18). O economista buscava controlar a inflação, de quase 16%. Em economias avançadas, a independência do BC em relação às preferências do governante de turno é prevista em lei.

As promessas de Kavcioglu

A primeira posição de Kavcioglu frente ao Banco Central turco foi afirmar que faria “o necessário para garantir o declínio da inflação“. O acadêmico também sinalizou que não recuaria dos aumentos de taxas de Agbal.

As mudanças no Banco Central, porém, chegam em um momento desafiador para as economias emergentes. Há competição pelo interesse dos investidores em mercados de maior risco, já que houve aumento de rendimentos de títulos do Tesouro dos EUA. Com a alta, vale mais a pena manter o dinheiro em mercados considerados menos arriscados, como o norte-americano.

A Turquia tem se tornado uma opção cada vez menos interessante na visão dos investidores: embora os fluxos para as economias em desenvolvimento aumentaram 29% nos últimos cinco anos, os da Turquia caíram 54%, apontou a Bloomberg. O governo Erdogan não comentou as mudanças no BC.

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