Os protestos de mulheres do Cazaquistão pela libertação de familiares detidos em Xinjiang, no oeste da China, já passa de um mês de campanha ininterrupta. Pequenos grupos protestam em frente ao consulado chinês em Almaty, maior cidade cazaque, desde 10 de fevereiro, segundo apurou a RFE (Radio Free Europe).
As manifestantes pedem por um retorno seguro para seus familiares, desaparecidos após viajarem à China. Muitos foram presos nos campos de detenção para uigures em Xinjiang, província no oeste chinês onde há uma política sistemática de controle da etnia, de religião muçulmana e história e cultura ligadas aos povos da Ásia Central.
Uma das líderes é Kosdaulet, que não vê seu marido desde 2017, quando foi a um funeral na província chinesa. Ela relata que o esposo foi detido por ter o aplicativo de mensagens WhatsApp em seu telefone celular. Embora as autoridades o tenham libertado após meses nos campos de detenção, seu passaporte foi apreendido e ele não pode deixar a China.
Há meses organizações internacionais denunciam a perseguição de Beijing contra a minoria étnica uigur em Xinjiang. Testemunhas já relataram assassinatos, esterilização forçada e maus tratos nos campos de detenção, que se multiplicaram desde 2017.
Ao menos dois milhões de uigures já passaram pelos centros nos últimos três anos. Apesar de negar as acusações, o governo chinês argumenta que as estruturas são essenciais para “combater o extremismo” e recusa alegações de genocídio vindas de países como os EUA e o Reino Unido.
Violência e perseguição
Sem notícias ou apoio do governo, as manifestantes cazaques persistem em frente ao consulado. Elas enfrentam cortes de internet, invasões em suas redes sociais, repressão policial e ameaças de processo.
Todas as manhãs, alto-falantes instalados pela polícia na frente do consulado afirmam que os atos são ilegais e a polícia poderá combatê-los. É comum que agentes de segurança empurrem as manifestantes para longe do consulado e exijam distância de pelo menos 50 metros do local.
Segundo a agência France24, o Cazaquistão reluta em condenar os abusos em Xinjiang para não interferir na relação com a China – grande investidor nos vastos recursos naturais do país e parceiro comercial de longa data.
Em 2018, o governo cazaque afirmou que Beijing permitiu o retorno de dois mil de seus cidadãos como um “gesto de gentileza”. Desde então, porém, as notícias de sentenças de prisão se tornaram mais comuns.
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