Este conteúdo foi publicado originalmente no portal ONU News, da Organização das Nações Unidas
Sem assistência urgente e ampliada, o avanço da fome aguda deve aumentar em mais de 20 países nos próximos meses. O alerta é da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e do Programa Mundial de Alimentos, num relatório publicado nesta terça-feira (23).
Iêmen, Sudão do Sul e norte da Nigéria estão no topo da lista e enfrentam níveis catastróficos de fome aguda, com algumas famílias já em risco de morte.
Embora a maioria dos países afetados esteja na África, a fome aguda deve aumentar vertiginosamente na maior parte do mundo: do Afeganistão, na Ásia, à Síria e Líbano, no Oriente Médio passando por Haiti, no Caribe.
Em todo o mundo, mais de 34 milhões de pessoas lutam contra os níveis de emergência de fome aguda, IPC 4, que significa novo avanço em direção à fome.
Em comunicado, o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, disse que “a magnitude do sofrimento está alarmante.” “É responsabilidade de todos agir agora e rapidamente para salvar vidas, proteger meios de subsistência e evitar o pior”, disse.
Já o chefe do PMA, David Beasley, acredita que três passos são precisos, urgentemente, para impedir que milhões morram de fome. Primeiro, parar os combates, depois, ter acesso a comunidades vulneráveis e, por fim, apoio dos doadores para angariar os US$ 5,5 bilhões necessários para ajuda humanitária.
Angola
Angola e Moçambique fazem parte da lista de países onde a insegurança alimentar deve aumentar. Em Angola, a seca, os desafios econômicos e um surto de gafanhotos do deserto, que devoram as plantações, intensificam a crise.
Outra estação seca deve prejudicar as famílias nas províncias do sudoeste do país. A baixa precipitação danificará a produção agrícola, incluindo nas principais regiões produtoras de cereais, bem como a criação de animais.
Já o surto de gafanhotos do deserto migratórios deve agravar a situação. Relatos iniciais mostram que nuvens gigantes arrasaram várias colheitas na província do Cuando Cubango, no sudeste de Angola, e continuam sendo uma ameaça.
Os desafios econômicos por causa da Covid-19, condições de crédito e redução da atividade empresarial são outros empecilhos no caminho.
O relatório prevê um aumento do preço dos alimentos e informa que o valor cobrado pela farinha de mandioca e de milho, os principais alimentos básicos do país, já subiu 30% e 25% no ano passado, respectivamente.
As agências estimam que 1 milhão de pessoas sofrerão com o avanço da fome em 2021, cerca de 17% acima da média de cinco anos. Em Moçambique, os principais fatores são tempestades e ciclones, a crise da Covid-19 e a insegurança na província de Cabo Delgado.
Os desastres naturais causaram deslocamentos e destruíram infraestrutura e colheitas. Segundo avaliações iniciais, 100 mil hectares de terras cultivadas já estão danificadas. Nas províncias do sul, os agricultores não tiveram sementes suficientes para uma segunda temporada.
Cabo Delgado
Em Cabo Delgado, a violência abrandou em janeiro e fevereiro, mas deve se intensificar com o fim da estação das chuvas esse mês, aumentando o número de deslocados, que estava em 668 mil no final do ano passado.
Um total de 2,9 milhões de pessoas devem enfrentar altos níveis de insegurança alimentar aguda, IPC Fase 3 e acima, entre janeiro e março. O valor está acima dos 2,7 milhões de pessoas nos três meses anteriores.
Esse número deve diminuir para 1,7 milhão entre abril e setembro, devido à época das colheitas e tendência de redução dos preços dos alimentos, mas as agências alertam para o possível impacto de vários fatores.
Apesar do aumento do apoio humanitário, a resposta tem sido dificultada por várias restrições, como insegurança e fortes chuvas. Em todo o mundo, conflitos e a pandemia de Covid-19 são as principais causas da crise alimentar.
A situação de violência pode prolongar-se, ou aumentar, em partes do Afeganistão, República Centro-Africana, Sahel Central, Etiópia, norte da Nigéria, norte de Moçambique, Somália, Sudão do Sul e Sudão.
Urgência
A crise de saúde deve seguir ao redor do mundo. A América Latina, a mais afetada pelo declínio econômico, será a mais lenta para se recuperar. Iêmen, Síria e Líbano sofrem com uma rápida depreciação da moeda e inflação vertiginosa.
Os extremos climáticos e o fenômeno La Niña provavelmente continuarão em abril e maio. Os surtos de gafanhotos do deserto na África Oriental e na costa do Mar Vermelho continuam podem chegar a partes da África Austral e arrasar as colheitas de verão.
O relatório recomenda ações de curto prazo em cada um dos locais mais afetados. As propostas vão desde o aumento da assistência alimentar à distribuição de sementes e tratamento e vacinação dos rebanhos. Outras fórmulas envolvem esquemas de trabalho em troca de dinheiro e reabilitação de estruturas de coleta de água.
Segundo as agências, a produção agrícola é essencial, especialmente onde o acesso é limitado e as pessoas dependem da produção local. “Dessa forma barraremos o avanço da fome”, apontou o documento.
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