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segunda-feira, 29 de março de 2021

Na Índia, metas ambiciosas e novos casos forçam pausa na exportação de vacinas

As metas impostas pelo governo de Narendra Modi e o aumento de contágios pela Covid-19 fizeram com que a Índia interrompesse a exportação de vacinas fabricadas pelo Instituto Serum, um dos maiores produtores globais e que abastece de imunizantes países como o Brasil, na última quinta (25).

A instituição é responsável por produzir 60% das doses enviadas via iniciativa Covax, da OMS (Organização Mundial da Saúde). Autoridades indianas disseram à BBC que a suspensão está ligada ao aumento da demanda doméstica.

A Índia é o terceiro país com o maior número de contaminações no mundo, só atrás dos EUA e do Brasil. Na quarta-feira, o país registrou o maior aumento diário de casos: foram compilados 47 mil novos contágios e 275 mortes, cifra que deve ser analisada à luz de uma forte subnotificação, dados os desafios enfrentados por sistemas de saúde de países emergentes em todo o mundo.

Na Índia, metas ambiciosas e alta em casos força parada em exportação de vacinas
Trabalhadores na linha de produção das vacinas à Covid-19 do Instituto Serum da Índia em fevereiro de 2021 (Foto: Covax/Dhiraj Singh)

A interrupção deve se estender até o final de abril e afetar o abastecimento de cerca de 190 países inscritos no esquema Covax. A Índia já exportou mais de 60 milhões de doses para 76 países – a maioria da Oxford/AstraZeneca.

Nova Délhi, porém, pode estar dando um passo maior do que a perna, disseram analistas ao portal GZero, da consultoria de risco político Eurasia. Ao mesmo tempo em que promete produzir centenas de milhões de vacinas para inocular países de baixa renda, a Índia também prevê a “maior campanha de vacinação contra a Covid-19 do mundo”. O objetivo do governo é imunizar um terço da população de 1,4 bilhão em sete meses.

Desafios internos

Ao mesmo tempo, Modi também espera distribuir milhões de doses extras aos países vizinhos em uma tentativa de combater a “diplomacia de vacinas” da China, sua principal rival regional.

A estratégia, intitulada de “Vaccine Maitri” – palavra sânscrita budista com conotação de amizade – prevê o envio de doses para países vizinhos, como Paquistão e Bangladesh.

O contato com o governo bengali foi prejudicado depois da revisão das leis de cidadania da Índia, que aumentam o papel dos hinduístas e geraram em 2019 tensões com o país, de maioria muçulmana e tornado independente dos indianos em 1971. Já os paquistaneses, que também podem receber vacinas, é um adversário histórico nas disputas pela região da Caxemira, no norte dos dois países e também predominantemente islâmica.

Mesmo com a pausa nas exportações, sobram desafios para as autoridades indianas de saúde. Houve falhas técnicas que atrasaram o processo de imunização, mesmo com a infraestrutura logística já instalada de postos de vacinação contra o sarampo e a tuberculose.

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