O cenário de maior instabilidade nas bordas da Rússia vai continuar e tem uma parcela grande de culpa de Moscou, que optou pela manutenção de ditadores nesses países como Belarus e as repúblicas da Ásia Central.
Quem avalia é Matthew Rojansky, do Wilson Center, instituto de pesquisa norte-americano, em entrevista ao World Politics Review. “A Rússia fez sua cama e agora terá de deitar nela”, afirmou.
Para o especialista, o problema vem do fato de que, em sua área de influência, a Rússia reserva para si uma espécie de “direito de veto” caso chegue ao poder um nome pouco amistoso para com Moscou nesses países.
Por permitir autocratas e ditadores como Aleksander Lukashenko em Belarus, Ilham Aliyev no Azerbaijão ou Nursultan Nazarbayev no Cazaquistão, agora terá de lidar com manifestações que pedem sistemas mais transparentes e democráticos nesses países.
Política externa
Ao contrário dos EUA, argumenta Rojansky, a Rússia tem seus principais desafios geopolíticos bem próximos de seu território. Por isso, vê tentativas de mudança do status quo como uma “ameaça à sobrevivência do Estado”.
Não faltam exemplos de instabilidade em países às portas da Rússia. As nações do Cáucaso, como Armênia e Azerbaijão, a Ucrânia, na Europa Oriental, e os países da Ásia Central e até o Afeganistão, na encruzilhada com o Grande Oriente Médio, há décadas em guerra.
Quando a mudança é inevitável, há apenas uma condição: esses países não podem cruzar a linha da tentativa de integração com o Ocidente.
Se isso acontece, caso da Geórgia em 2003 e Ucrânia em 2004, a resposta é a intervenção em processos eleitorais e financiamento de grupos em defesa dos interesses de Moscou. Do contrário, Moscou se mostra aberta a trabalhar de forma pragmática com os novos governos.
Estabilidade centralizadora
As chamadas “revoluções das cores”, rosa para os georgianos e laranja para os ucranianos, são exemplos de mudanças vistas como ameaça pelo governo de Vladimir Putin. A Rússia atuou para que esses países não adotassem modelos de governo e sociedade ocidentalizados, explica.
O problema é que Moscou não foi capaz de oferecer uma alternativa a essas nações que não um governo autocrático e centralizador, alinhado a seus interesses. “A única estabilidade é da própria Rússia”, diz Rojansky. “E, claro, essa é estabilidade do governo de um homem só de Vladimir Putin”.
Isso porque o entendimento ocidental de que o curso natural do desenvolvimento passa por uma democracia liberal está longe de ser vigente na Rússia. Por ali, a compreensão é a de que um Estado deve ser forte, centralizado e determinado a garantir o interesse nacional.
Já em sua esfera de influência pós-soviética, os russos teriam uma visão definida pelo especialista como um “mercantilismo político”. Se há lucros, o método não precisa ser democrático, já que esta não seria a única saída “moralmente correta ou historicamente determinada” de destravar o desenvolvimento de um país.
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