Após advertir o Mali na semana passada sobre os riscos de um acordo com o Grupo Wagner, a França enviou sua ministra da Defesa ao país africano, no domingo (19), para pressionar a junta militar a não avançar nas negociações com os mercenários russos. Além disso, de acordo com matéria da Voice of America (VOA), os franceses estão no encalço para que o governo do coronel Assimi Goita devolva a nação à ordem constitucional em fevereiro de 2022.
A visita de Florence Parly ocorre em meio Às negociações do governo militar do Mali com combatentes da misteriosa organização mercenária, o que apontaria para uma vertiginosa influência de Moscou na região. Diante disso, a França iniciou uma campanha diplomática para demover o país da ideia, justificando que tal acordo é inconciliável com a presença de tropas francesas no Mali.
O Cedeao (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental) e outros aliados que engrossam o front no combate a grupos extremistas na região do Sahel também manifestaram apreensão com o iminente acordo.
A junta militar do Mali, no poder desde agosto de 2020, justifica o acordo na movimentação militar da França para fora do país, que começou a reduzir a missão Barkhane, iniciada em 2013. A operação combateu rebeldes da Al Qaeda e Estado Islâmico (EI) em toda a região. Atualmente, 5,1 mil militares franceses estão ativos por lá.
No domingo, o Ministério das Relações Exteriores de Mali chamou de “inaceitáveis, hostis e condescendentes” a contestação do vizinho Níger sobre a perspectiva de um acordo com o Grupo Wagner.
“Pesadas consequências”
Um funcionário do Ministério da Defesa da França declarou à imprensa antes da visita que Parly enfatizaria às autoridade do Mali “as pesadas consequências se esta decisão for tomada”. Segundo ele, a mensagem da ministra incluiria a importância que o calendário para a transição para a democracia, que levará às eleições em fevereiro de 2022, seja mantido.
O exército francês começou a redistribuir tropas nas bases que mantém em Kidal, Tessalit e Timbuktu, no norte do Mali, no início do mês. O país quer reduzir seu contingente para até 3 mil, movendo mais ativos para o Níger e encorajando outras forças especiais europeias a trabalharem ao lado das forças locais.
Organização obscura
Oficialmente, o Wagner Group sequer existe. Mas há indícios de que ao menos 10 mil pessoas já atuaram para a misteriosa organização, cuja primeira empreitada de que se tem notícia foi em 2014, quando se aliou a separatistas pró-Rússia contra o governo da Ucrânia. Desde então, há sinais de presença do grupo em conflitos em diversos países, como Líbia, Síria, Sudão, Moçambique e República Centro Africana.
Por que isso importa?
A instabilidade no Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país durante dez meses. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em agosto do ano passado o quarto golpe militar na sua história.
Especialistas e políticos ocidentais enxergam uma geopolítica delicada na região, devido ao aumento constante da influência de grupos jihadistas. Além disso, trata-se de uma posição importante para traficantes de armas e pessoas. A retirada das tropas de Macron tende a aumentar a violência.
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