No Zimbábue, estima-se que há cerca de 20 psiquiatras para uma população de 14 milhões. Para auxiliar aqueles que sofrem de depressão, um desses médicos, Dixon Chibanda, criou um método terapêutico.
Os “Bancos da Amizade” são administrado por senhoras idosas, treinadas pela equipe do psiquiatra, que fazem triagem para tratamentos mentais com abordagem cognitivo-comportamental.
Estima-se que uma em cada quatro pessoas no país podem ter de depressão ou ansiedade. No mundo, a depressão atinge cerca de 350 milhões de pessoas, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Um programa da ABC trouxe informações sobre os bancos. Nos últimos três anos, mais de 50 mil pessoas foram atendidas por cerca de 500 vovós em todo o país. Segundo Chibanda, a pretensão é de treinar mil avós em 2020 e mais três mil nos próximos três anos.
“Nossa meta é atingir um milhão de pessoas nos próximos dois a três anos. Um milhão de pessoas sentadas em bancos, recebendo terapia de uma avó treinada na comunidade”, aponta Chibanda.
Onde tudo começou
De acordo com o psiquiatra, em 2006, uma operação para ‘Remover a Sujeira’ deixou centenas de milhares desabrigados. Mais de um milhão de pessoas foram afetadas psicológica e emocionalmente.
“Na época eu era o único psiquiatra trabalhando na área de saúde pública no Zimbábue. As pessoas procuravam curandeiros tradicionais quando estavam desesperadas, porque não temos atendimento médico para isso. Os poucos que existem só podem atender às necessidades de menos de 10% da população”, relata.
Chibanda explica que, nas áreas mais remotas continente africano, a saúde mental não é vista como um problema psicológico. A maioria ainda vincula doenças de ordem psicológica à bruxaria.
É comum que o sofrimento psicológico seja visto como algum tipo de comportamento perverso causado por um espírito vingativo.
Bancos pelo país
No total, são 250 bancos espalhados pelo Zimbábue. No início, a adesão do público foi baixa. “As pessoas só começaram a vir quando mudamos o nome. Enquanto eu pensava em nomes científicos, as avós diziam ‘não, isso não vai funcionar’”, conta o médico.
Já os médicos, colegas de Chibanda, viam com desconfiança a proposta de atendimento por vovós sem formação em medicina. “A proposta não era baseada em evidências científicas, então diziam que não ia funcionar. Entendo, pois isso não foi feito em nenhum outro lugar do mundo.”
A ideia inicial era de treinar enfermeiros de unidades básicas de saúde. Como também há poucos profissionais do tipo no país, não havia pessoal de enfermagem suficiente para participar.
Curso das vovós
As avós passam por seis semanas de treinamento. Durante o curso, são abordados fundamentos de terapia cognitivo-comportamental, para estimular o compartilhamento de problemas e mudar a maneira de pensar e se comportar do “paciente”.
Após passar, pelo treinamento, elas estão prontas para conhecer seus primeiros clientes.
Os bancos ficam do lado de fora dos centros de saúde, sob a sombra de uma árvore. Os pacientes são indicados por amigos, familiares ou médicos e preenchem um questionário com 14 perguntas.
O paciente deve obter nove pontos ou mais para iniciar a terapia com um médico. A maioria foi vítima de violência doméstica e de gênero ou é portadora do vírus HIV.
“Ainda existe muito estigma associado a viver com HIV, além do desemprego, de questões relacionadas com crianças ou membros da família que não estão bem, e convulsões psicossociais gerais, características do Zimbábue”, explica Chibanda.
O país há décadas vive grave crise econômica e pobreza generalizada, entrecortada por episódios de hiperinflação e corrupção endêmica.
Programa de sucesso
Para Chibanda, o programa tem sucesso se aumenta o número de pessoas que retomaram suas vidas nas comunidades e capazes de cuidar de suas famílias. Quando se trata de mulheres, é fundamental observar quantas se tornaram independentes após o tratamento.
Simples, barato e com ajuda das vovós, os bancos funcionam sobretudo por causa delas, guardiãs da cultura e sabedoria local. “Assim, removem o estigma normalmente associado à doença mental”, reflete.
O sucesso foi tanto que os bancos foram levados para outros países africanos, como Quênia, Botswana, Malaui e Tanzânia. “Estão pensando em expandir para Ruanda, Libéria e Londres. O Banco da Amizade se adapta a cada local”, conta Chibanda.
O modelo também será estudado em universidades no Reino Unido.
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