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quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Indianos muçulmanos são presos por terem festejado vitória do Paquistão no críquete

Pelo menos 12 indianos muçulmanos foram presos sob a acusação de terem comemorado a vitória do Paquistão sobre a Índia em partida válida pela Copa do Mundo de Críquete, no último dia 24. Entre as acusações, eles respondem por “alvoroço” e “promoção da inimizade entre grupos”. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Junto das pessoas levadas sob custódia pela polícia estava uma professora do Estado do Rajastão, que chegou a ser demitida por compartilhar no status do WhatsApp a mensagem “Ganhamos” ao término do duelo disputado em Dubai, nos Emirados Árabes, que sedia o evento. Uma médica que atua em um hospital público na Caxemira indiana também teve seu contrato de trabalho rescindido após celebrar em suas redes sociais a esmagadora vitória paquistanesa por 10 postigos.

Já no Estado de Uttar Pradesh, sete pessoas foram presas, incluindo três estudantes da Caxemira que, de acordo as autoridades, teriam gritado frases “anti-Índia e pró-Paquistão” durante a jogo. O trio é acusado de “promover inimizade e terrorismo cibernético” e foi agredido na presença da polícia por grupos de direita hindus, enquanto eram apresentados no tribunal. O ministro-chefe do Estado disse que todos responderão por sedição. A pena pode chegar a até sete anos de prisão.

Torcida paquistanesa durante o mundial da categoria T20 em Dubai (Foto: International Cricket Council/Reprodução Twitter)

Comentando o episódio, o ex-juiz da Suprema Corte indiana Deepak Gupta avaliou que a celebração feita por qualquer indiano pela vitória do Paquistão no críquete “definitivamente não é uma sedição e é ridículo pensar que é”.

Baseada em uma legislação que remonta à era colonial britânica, a acusação de sedição pode ser aplicada contra qualquer pessoas que “traga ou tente trazer ódio ou desprezo, ou excite ou tente provocar insatisfação com o governo estabelecido por lei”.

O críquete é o esporte mais popular na Índia e no Paquistão, e os países vizinhos têm imensa rivalidade em campo desde que a Índia britânica foi dividida em dois países em 1947.

Em setembro, uma turnê de amistosos na Nova Zelândia entre os donos da casa e o Paquistão foi cancelada por conta de um alerta de segurança emitido pelo governo local. O cancelamento frustrou os esforços do Conselho de Críquete do Paquistão para retomar internacionalmente o esporte no país, depois que a seleção nacional foi forçada a jogar no exílio por seis anos após um ataque em 2008 ao time de críquete do Sri Lanka em Lahore.

Por que isso importa?

divisão entre muçulmanos e hindus é histórica na Índia. No país, os muçulmanos são vítimas de preconceito, preteridos em empregos e alvos de todo tipo de barreira para alcançar a independência econômica e social. O Hinduísmo é a religião de 80,5% da população do país, contra 13,4% do Islamismo e 2,3% do Cristianismo.

A polarização religiosa é reflexo de um conflito que dividiu em três a antiga colônia britânica no subcontinente indiano, ainda no final dos anos 1940. A Índia, de maioria hinduísta, está no centro, cercada no leste e no oeste por duas nações de fé islâmica, Bangladesh e Paquistão, respectivamente.

O extremismo muçulmano, por parte de grupos jihadistas em todo o mundo, só faz aumentar o preconceito contra os seguidores da fé islâmica na Índia.

Devido ao conflito religioso, diversos Estados da Índia estabeleceram, no final de 2020, leis que criminalizam o casamento entre pessoas de fés diferentes. A Lei Especial do Casamento exige um período de aviso prévio de 30 dias para casais inter-religiosos.

Alguns Estados sob o domínio do Partido Bharatiya Janata (BJP), do primeiro-ministro Narendra Modi, tomaram medidas adicionais. Eles introduziram leis que proíbem a “conversão ilegal”, a fim de impedir que hindus mudem de religião para se casarem com pessoas de outras fés.

O choque entre as fés influenciou até no controle da pandemia. Quando surgiram os primeiros casos de Covid-19 na Índia, uma teoria da conspiração se espalhou rapidamente. Era um processo de desinformação em massa chamado de “coronajihad”, que vinculava os muçulmanos ao até então desconhecido novo coronavírus.

A situação bastou para inflar a tensão entre muçulmanos e hindus em todo o território indiano. Não demorou muito para que islâmicos fossem espancados ou tivessem leitos hospitalares negados, enquanto trabalhadores da saúde eram rejeitados nos hospitais lotados e carentes de profissionais.

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