Preso desde julho de 2020, acusado de traição, o jornalista russo Ivan Safronov foi alvo de novas denúncias da Justiça da Rússia, que podem levar a uma sentença de até 20 anos de prisão. Agora, ele é acusado de ter vendido segredos militares russos a um pesquisador suíço, que por sua vez os teria repassado aos serviços de inteligência da Alemanha. As informações são da Radio Free Europe.
Ivan Pavlov, advogado do jornalista, revelou na terça-feira (2) o novo crime atribuído a Safronov, que até então respondia por ter repassado à inteligência da República Tcheca dados sobre a venda de armas pelo governo russo na África e no Oriente Médio. Agora, a nova acusação cita inclusive o valor que o jornalista teria recebido em troca dos tais segredos militares: US$ 248 (cerca de R$ 1,4 mil).
“Investigadores dizem que, em dezembro de 2015, Safronov repassou informações sobre as atividades das forças armadas da Federação Russa na Síria ao pesquisador político Demuri Voronin, que, por sua vez, repassou os dados a representantes da Universidade de Zurique, na Suíça, e ao Serviço Federal de Inteligência da Alemanha”, disse Pavlov.
Na visão dos opositores do presidente russo Vladimir Putin, as acusações contra o jornalista têm motivação meramente política e são parte da forte repressão que o Kremlin impõe a seus críticos. De acordo com a agência Reuters, cerca de 100 mil pessoas assinaram uma petição online que acusa as autoridades russas de usar provas falsas para acusar Safronov.
O jornalista, que por muito tempo trabalhou na cobertura de assuntos de segurança, posteriormente ocupou o cargo de assessor de Dmitry Rogozin, antigo chefe da Roskosmos, a agência aeroespacial russa. O advogado dele também passou a ser investigado pelas autoridades russas, por isso foi forçado a deixar o país e hoje vive na vizinha Geórgia, cujo governo faz oposição a Moscou.
Safronov nega as acusações, e muitos apoiadores do jornalista fizeram manifestações de rua em Moscou exigindo sua libertação. Organizações de direitos humanos emitiram declarações no mesmo sentido e expressaram preocupação com a intensificação da repressão aos dissidentes na Rússia. Segundo o advogado, o jornalista é acusado pelo simples ato de exercer sua profissão.
Por que isso importa?
Jornalistas e veículos de imprensa críticos ao governo são alvo de uma perseguição que tem o respaldo da Justiça do país. Em junho, outro jornalista, Ivan Pavlov, ex-diretor da Fundação Anticorrupção de Alexei Navalny, também entrou para a lista de procurados da Rússia. O ministério do Interior não especificou o crime para ordenar a prisão.
Em julho, após a publicação de reportagens desfavoráveis ao presidente Vladimir Putin, o site The Insider e cinco jornalistas do veículo foram listados como “agentes estrangeiros”. A medida seria um ato de vingança contra a mídia independente por ajudar a revelar o papel do Kremlin nos envenenamentos do ex-espião Sergei Skripal, bem como outras tentativas de assassinato pela FSB (Agência Nacional de Segurança, da sigla em inglês).
A designação de “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. A classificação acaba por afastar potenciais parceiros e anunciantes e muitas vezes sufoca financeiramente os veículos, obrigados ainda a fornecer ao governo relatórios detalhados sobre suas finanças e atividades.
Jornalistas independentes ou representantes de veículos de mídia que tenham se esquivado das exigências três vezes após terem o nome incluído na lista podem pegar pena de até dois anos de prisão, de acordo com o código penal russo.
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