À medida que o governo liberal do Canadá avança na definição de sua política sobre o 5G, há claros acenos de que a gigante chinesa Huawei não será uma fornecedora de tecnologia dentro das futuras redes móveis no país. É o que dizem especialistas em segurança global, de acordo com a rede canadense CP24.
Os conservadores da oposição vêm pressionando os liberais para que neguem à corporação de telecomunicações um espaço na infraestrutura 5G do país, alegando temores de que, com as portas escancaradas, Beijing poderia espionar os canadenses com facilidade.
Alguns políticos afirmam que a participação da empresa chinesa poderia dar a ela acesso a informações digitais obtidas a partir de como, quando e onde os clientes canadenses usam dispositivos conectados à Internet. Tal teoria ainda alega que as agências de segurança do país asiático poderiam forçar a Huawei a entregar as informações pessoais.
O receio se apega ao fato de que a Lei de Inteligência Nacional da China determina que as organizações e os cidadãos locais devem apoiar, ajudar e cooperar com o trabalho de inteligência do Estado.
Para Wesley Wark, professor adjunto da Universidade de Ottawa, independentemente de que exista uma legitimidade na narrativa de que a Huawei represente um risco de segurança aos canadenses, as preocupações deram origem a uma sentimento geral de que os países não devem apoiar em uma empresa de telecomunicações que é apoiada por Beijing.
“A empresa está muito alinhada ao regime chinês para permitir que os Estados ocidentais façam qualquer outra coisa. E eles têm alternativas”, disse ele.
A Huawei, por meio de seu vice-presidente de assuntos corporativos no Canadá, Alykhan Velshi, rejeita as acusações e defende que a empresa que representa é “extremamente independente” e não faz espionagem para ninguém, incluindo a China.
“Vendemos em 180 países ao redor do mundo. Temos que cumprir as leis de cada um desses países. E se violássemos a confiança, acabaríamos vendendo apenas em um país”, declarou o executivo.
A atmosfera de desavenças diplomáticas entre as nações vem na esteira da solução dos casos de Michael Spavor e Michael Kovrig, cidadãos canadenses detidos na China logo após a prisão de Meng Wanzhou, executiva da Huawei acusada pelos EUA de espionagem industrial. O incidente é uma das razões de Ottawa para adiar a decisão sobre as empresas que se tornarão provedores da rede de internet 5G alimentada por IA.
Influência dos EUA
Na aliança de compartilhamento de inteligência Five Eyes, da qual o Canadá faz parte, três aliados tomaram medidas de restrição quanto ao uso de equipamentos da Huawei nas respectivas redes 5G de seus países: Estados Unidos, Grã-Bretanha e Austrália. Nos EUA, Joe Biden endureceu as restrições tanto à Huawei quanto à ZTE na semana passada pela Lei de Equipamentos Seguros, que aperta as restrições aplicadas a empresas que possam ser vistas como um risco para a segurança nacional.
O Canadá reconhece que os EUA têm incentivado fortemente os países a tomarem cuidado com as considerações de segurança 5G, observando que uma delegação norte-americana visitou o país em março de 2020 para discutir o assunto com ministros e autoridades governamentais.
“Os EUA deixaram claro que o Canadá ‘tem que embarcar’ se quiser continuar fazendo parte do clube”, disse Fen Hampson, professor de relações internacionais da Carleton University. E acrescentou: “É o prêmio de segurança que você paga, não apenas nacionalmente, mas por ser um parceiro em alianças de segurança privilegiadas como o Five Eyes. Não há almoço grátis, você não pode comer dos dois jeitos”, disse.
“Este é o grande acerto de contas que enfrentamos agora. E acho que está bem claro para que lado o governo vai pular”.
Também na semana passada, uma declaração do ministro da Indústria do Canadá, François-Philippe Champagne, soou como um forte sinal de rejeição à China: “a segurança nacional vem em primeiro lugar”, à medida que o país avança com “parceiros confiáveis” na colaboração de inteligência artificial, tecnologia que “deve transformar a vida cotidiana”.
Por que isso importa?
A Huawei tem enfrentado uma crescente desconfiança na construção de redes 5G em todo o mundo, com a implantação rejeitada em vários países. Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Reino Unido já baniram a infraestrutura da fabricante em seu território por medo de que a China pudesse usá-la para espionagem.
No 5G, que tornou-se ferramenta de pressão geopolítica, os riscos de segurança são mais elevados. Isso porque a nova tecnologia incorpora softwares responsáveis por um processamento dos dados pessoais dos clientes e outras informações confidenciais.
A decisão de utilizar ou não a Huawei nas redes móveis põe a Europa no fogo cruzado da intensa pressão dos Estados Unidos para banir o grupo. Washington alega potencial de vazamento de dados e outras brechas de segurança em benefício do governo chinês.
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