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quinta-feira, 15 de abril de 2021

Do alinhamento à rivalidade, entenda a relação de EUA e Irã nos últimos 50 anos

As disputas sobre o petróleo e a ameaça de bomba nuclear são o ponto focal das complexas relações entre os EUA e o Irã desde a tomada do poder pelos aiatolás, em 1979. Os laços, antes fortes e sob a égide da demanda global por petróleo, se encontram sob constante tensão nas últimas décadas.

Conheça os processos tortuosos dessas relações entre Washington e Teerã, com base no levantamento histórico do think tank norte-americano Council of Foreign Relations.

De aliados a rivais: a escalada de tensões entre EUA e Irã nos últimos 40 anos
Grafite feito no muro da antiga embaixada dos EUA em Teerã, capital do Irã, em dezembro de 2006 (Foto: Divulgação/Pooyan Tabatabaei)

Amigos

O apoio do primeiro-ministro Mohammed Mossadeq à nacionalização da petroleira Anglo-Persian Oil Company, então de propriedade da Grã-Bretanha, gerou descontentamento dos EUA e do Reino Unido em 1953.

Em agosto daquele ano, as agências de inteligência ocidentais se uniram com o Exército iraniano para derrubar o líder, eleito por vias democráticas. Sua saída deu lugar à volta da monarquia chefiada pelo xá Mohammad Reza Pahlevi – aliado ao Ocidente e dependente do apoio de Washington para se manter no poder.

Em 1954, britânicos e norte-americanos agem para que o xá assinasse um Acordo de Consórcio que concedeu 40% da indústria petrolífera do Irã aos norte-americanos, britânicos e franceses por 25 anos. Apenas três anos depois, EUA e Irã assinam outro acordo, o Tratado de Cooperação em Matéria de Usos Civis de Átomos, parte da iniciativa “Atoms for Peace” (átomos para a paz, em português), proposto pelo presidente Dwight Eisenhower.

A medida previa que os países em desenvolvimento recebessem educação e tecnologia nuclear dos EUA e estabelecia uma base para o programa nuclear do Irã. Mais tarde, Teerã recebe um reator e combustível de urânio enriquecido para armas. A colaboração segue até 1979 – o início da revolução iraniana, que conduz o clero xiita ao poder.

De aliados a rivais: a escalada de tensões entre EUA e Irã nos últimos 40 anos
O xá do Irã, Mohammad Reza Pahlavi (direita), em encontro com o então presidente dos EUA, George Ford, na Casa Branca, Washington, em maio de 1975 (Foto: Casa Branca/Domínio Público)

O nascimento da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), em setembro de 1960, inaugura uma nova fase na interação entre o Irã e os EUA. À época, Teerã se uniu a Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela para contrapesar as empresas ocidentais que dominavam o fornecimento global de petróleo.

Os lucros dispararam a partir da década de 1970 e o grupo ganhou vantagem sobre seus concorrentes. Com o aumento da influência no mercado, o Irã se torna um aliado crucial dos norte-americanos. Em maio de 1972, o então presidente Richard Nixon visita o país do Oriente Médio.

No encontro, Nixon pediu ajuda ao xá para proteger os interesses de segurança nacional dos EUA na região – incluindo a oposição ao Iraque, à época aliado da União Soviética. Em troca, Nixon promete que o Irã poderia comprar qualquer sistema de armas nucleares que quisesse.

A guerra árabe-israelense, de 1973, porém, fez com que o xá conseguisse comprar um suprimento maior de armamentos de alta tecnologia que o previsto. A aquisição incomoda os EUA e começa aí o revés nas relações entre os dois países.

EUA e Irã como rivais

Em 1979, a agitação civil generalizada no Irã força a saída do xá em fuga para os EUA, onde ele diz tratar de um câncer. Enquanto isso, o aiatolá Ruhollah Khomeini – clérigo xiita que se opõe à ocidentalização – retorna ao país após 14 anos no exílio.

Khomeini assume o poder em dezembro daquele ano e transforma o Irã em uma teocracia islâmica com forte oposição ao Ocidente. Entre novembro de 1979, acontece o sequestro de 52 norte-americanos na embaixada dos EUA por estudantes iranianos radicais que exigiam a extradição do xá.

Os EUA cortam os laços com Teerã, sancionam as exportações de petróleo e congelam os ativos do país. Os reféns só são libertados 444 dias depois, em janeiro de 1981. O imbróglio termina no dia 20, quando o então presidente Jimmy Carter, derrotado nas urnas após apenas um mandato, dá lugar a seu sucessor, Ronald Reagan.

De aliados a rivais: a escalada de tensões entre EUA e Irã nos últimos 40 anos
Fiéis prestam suas últimas homenagens a Ruhollah Khomeini, líder da Revolução Islâmica do Irã, morto em junho de 1989 (Foto: Divulgação/Khamenei.ir)

A promessa dos EUA de não interferir na política interna do Irã perdura durante a Guerra Irã-Iraque, entre 1980 e 1988. Mas as suspeitas de envolvimento dos iranianos na Guerra do Golfo, entre 1990 e 1991, apesar das afirmações de neutralidade de Teerã, fizeram com que os EUA endurecessem as sanções sobre o país.

Sob o governo de George H. W. Bush, em 1992, o Congresso norte-americano aprovou a Lei de Não-Proliferação de Armas Irã-Iraque. Outras sanções, em 1995 e 1996, avançam sobre as empresas norte-americanas que investem nos setores de gás e petróleo iraniano.

“Eixo do mal”: a ameaça nuclear

Depois do ataque de 11 de setembro de 2001, o então presidente George W. Bush – filho do mandatário que comandou a guerra do início dos anos 1990 – estabelece um canal com o Irã para coordenar a derrota do Taleban, inimigo comum que forneceu abrigo aos membros da Al-Qaeda no Afeganistão.

A parceria, porém, dura pouco. Em janeiro de 2002, Bush descreve o Irã como parte de um “eixo do mal”, com o Iraque e a Coreia do Norte. Em resposta, o governo iraniano interrompe as reuniões secretas com os diplomatas dos EUA que faziam parte dos esforços de contraterrorismo.

A partir daí, a Guerra do Iraque e conflitos em razão da ameaça de ogivas nucleares de fabricação iraniana alimentam as divergências entre os dois países até novembro de 2013, quando Barack Obama convoca o recém-eleito Hassan Rouhani para discutir o programa nuclear do Irã – o contato mais direto desde 1979.

Pouco depois surgia o Acordo Nuclear inicial, assinado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e o governo de Teerã. A medida dava algum alívio às sanções do país, fator que serviu para persuadir os aiatolás a assinarem o Plano de Ação Global Conjunto, que inclui a UE (União Europeia), em 2015.

Apenas três anos depois, já sob o presidente Donald Trump, os EUA se retiram do acordo e iniciam uma campanha de “pressão máxima” sobre o Irã. Em resposta, Teerã impulsiona seu enriquecimento de urânio e desafia os termos do acordo. É o início da escalada retórica e militar entre o Irã e o governo Trump.

De aliados a rivais: a escalada de tensões entre EUA e Irã nos últimos 40 anos
Da esquerda para a direita, ministros das Relações Exteriores da China, França, Alemanha, União Europeia, Irã, Reino Unido e EUA, após a assinatura do Acordo P5+1 em Viena, julho de 2015 (Foto: Ministério de Assuntos Exteriores da Áustria/Dragan Tatic)

Hoje (e depois)

Em 3 janeiro de 2020, a morte de Qasem Soleimani por forças dos EUA – comandante da força de elite do Exército iraniano – pauta o descumprimento definitivo do Irã com as restrições do acordo nuclear.

Apenas cinco dias depois, forças de Teerã abatem por engano um avião de passageiros ucraniano enquanto mantinham-se em alerta máximo a possíveis ataques dos EUA. Já sem recursos em decorrência das sanções, o Irã dá início a um treinamento militar com seus armamentos no Estreito de Ormuz, que escoa cerca de um terço da produção mundial de petróleo.

Em uma tentativa de driblar a crise durante a covid-19, que pegou os hospitais do país sem infraestrutura e um número crescente de contaminados, Teerã passa a embarcar petróleo para a Venezuela, seu antigo parceiro da Opep, apesar das sanções de Washington contra ambos os países.

A eleição de Joe Biden, em novembro, abre um novo capítulo às complexas relações entre Irã e EUA. Em carta, aliados de Washington chegaram a pedir uma pausa em novas sanções ao país do Oriente Médio, sinal de boa vontade para novas negociações sobre o acordo nuclear.

Teerã ameaçou restringir o acesso dos inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) ao seu estoque nuclear caso os EUA não derrubem as sanções impostas por Trump desde 2018. Uma possível retomada, contudo, seria mais um capítulo na tensão entre Irã e EUA, cujo desfecho está longe do fim.

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