Facções em conflito na fronteira entre o Quirguistão e Tadjiquistão, na Ásia Central, acordaram em paralisar as agressões nesta quinta (29) após 24 horas de combates ininterruptos. O governo quirguiz confirmou 13 mortos e 134 feridos. Pelo menos 13,5 mil quirguizes deixaram as vilas ao longo da divisa.
O cessar-fogo ocorreu por volta das 22h desta quinta-feira (13h no horário de Brasília) após um acordo entre os ministros das Relações Exteriores dos dois países. As autoridades concordaram em retirar as tropas e resolver o conflito por via diplomática.
A ofensiva foi a mais intensa desde a dissolução da União Soviética, segundo a RFE (Radio Free Europe). A disputa começou na quarta-feira, no vilarejo quirguiz de Kok-Tash e logo se espalhou para outras áreas da fronteira.
O imbróglio começou em janeiro de 2013, quando um grupo de jovens tadjiques de Chorkuh se envolveram em uma briga com quirguizes em um estabelecimento comercial. Desta vez, quirguizes flagraram um grupo do Tadjiquistão tentando instalar uma câmera de videomonitoramento na estação que capta água para ambos os países.
Autoridades de Kok-Tash afirmam que os tadjiques vigiam a estação desde o dia 17, quando trabalhadores quirguizes teriam feito reparos no local. O outro lado da fronteira reclama de não ter sido previamente informado.
Em seguida, os combates escalaram e as forças do Quirguistão e Tadjiquistão começaram uma intensa troca de tiros. Conforme o UKMK (Comitê Estadual de Segurança do Quirguistão), o lado tadjique usou metralhadoras e morteiros pesados.
Registros apontam que o Tadjiquistão já havia atacado o país vizinho da mesma forma em janeiro de 2014 e maio de 2020. Agentes teriam colocado fogo em casas e veículos de aldeias quirguizes ao longo da fronteira. Vários postos de controle do Quirguistão foram incendiados.
Conflito cartográfico
O Tadjiquistão afirma ser contra os planos do governo quirguiz de construir um reservatório no rio que separa os dois países. O receio é que uma obra no local interfira no fluxo de água para vários distritos do norte do país.
Os dois lados da fronteira mantêm um alto nível de desconfiança mútua há mais de 15 anos. A configuração cartográfica da divisa colabora para isso: cartógrafos soviéticos delimitaram a fronteira estatal às repúblicas do bloco comunista, e os tadjiques são um grupo étnico relevante na composição populacional do vizinho.
Depois do colapso, no final de 1991, porém, elas se tornaram as delimitações de países independentes – divisão essa que nunca existiu na prática entre as comunidades étnicas da região, muitas delas nômades por séculos. Até hoje, apenas 504 quilômetros das estradas e hidrovias que cruzam a fronteira de 970 quilômetros foram demarcados.
Os grupos brigam entre si para capturar esses espaços, em disputa que também acontece no volátil Vale de Ferghana, onde as fronteiras do Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão se encontram.
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