Preso desde janeiro, o advogado e político russo Alexei Navalny, 44, reapareceu nesta quinta-feira (29) em uma audiência por vídeo. Na imagem, um homem com 20 quilos a menos e a cabeça raspada – bem diferente daquele detido após retornar da Alemanha, onde passou meses em tratamento após sobreviver a uma tentativa de envenenamento.
A deterioração física de Navalny é consequência de uma greve de fome, seu protesto por não receber atendimento médico adequado na prisão. Este, porém, é apenas o mais recente capítulo da trajetória que o alavancou como o principal opositor do poderoso presidente russo Vladimir Putin.
Alexei Navalny nasceu em 4 de junho de 1976 na pequena vila moscovita de Butyn, mas cresceu na cidade de Obninsk, a 100 quilômetros da capital russa. Formou-se em direito na Universidade Amizade dos Povos de Moscou, em 1998. Em 2010, passou um ano no programa Yale World Fellow, nos EUA, onde agora estuda sua primogênita Daria.
O político ganhou popularidade na Rússia a partir de 2008, quando iniciou um blog sobre suposta corrupção em grandes corporações comandadas pela elite de oligarcas russa. Em sua atuação, Navalny entrava no time de acionistas minoritários de grandes estatais de petróleo, bancos e ministérios e fazia perguntas incômodas sobre lacunas nas finanças do Estado.
Sua primeira prisão ocorreu em julho de 2013, após acusação de peculato [subtração ou desvio de recursos públicos], na cidade de Kirov. A sentença de cinco anos de prisão foi suspensa de forma inesperada, quando as autoridades acataram seu pedido para concorrer a prefeito de Moscou. Navalny teve 27% dos votos – pouco atrás do candidato de Putin, Sergei Sobyanin, até hoje no cargo.
Sucesso nas ruas
A vitória surpreendeu: Navalny não teve acesso à TV estatal e contou apenas com a internet e a campanha nas ruas. A partir daí, sua imagem começou a se espalhar para além das fronteiras da Rússia. “A melhor coisa que os países ocidentais podem fazer pela justiça é reprimir o dinheiro sujo”, disse ele à época, em entrevista para a BBC.
Iniciava ali sua campanha pelo combate à corrupção e queda do regime russo por meio de manifestações públicas e criação de fundações que investigavam o desvio de recursos – hoje fechadas por determinação da Justiça. Seus esforços não passaram despercebidos pelo Kremlin, que logo iniciou uma campanha de difamação e ataques contra o opositor.
O motivo pelo qual Navalny está preso hoje é uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores o acusam de não ter se apresentado regularmente à polícia em 2020, já que se tratava na Alemanha depois do coma causado pelo envenenamento por novichok – agente nervoso tóxico de invenção soviética – em Omsk, na Sibéria.
O Judiciário russo alega que o político esteve envolvido em um desfalque em uma subsidiária russa da empresa francesa de cosméticos Yves Rocher e a madeireira Kivovles. O irmão de Navalny ficou preso por três anos por conta da alegação, nunca provada.
Ataque sistemáticos
Em 2018, a condenação por fraude impediu Navalny de desafiar Putin nas urnas. No ano seguinte, em uma das várias de suas prisões, o político foi diagnosticado com dermatite de contato – o que médicos disseram ter sido uma possível tentativa de envenenamento.
Em outras duas vezes, o político foi atacado com um corante anti-séptico conhecido como zelyonka, que lhe geraram queimaduras químicas nos olhos. Navalny acusa Putin de orquestrar os ataques. “Sua principal reclamação comigo é que ele entrará para a história como um envenenador”, disse ele sobre o mandatário russo.
“Será Vladimir, o envenenador de cuecas”, ironizou, em referência à confissão de um agente de segurança da estatal FSB, por telefone, sobre o uso do novichok na peça de roupa íntima do opositor. Em seguida, imagens de cuecas pipocaram nas redes sociais russas.
A substância quase matou Navalny em agosto de 2020. Uma disputa diplomática se instaurou para convencer o Kremlin a liberar o opositor para tratamento na Alemanha, onde médicos constataram o uso da arma química. O governo russo nega envolvimento no ataque.
Navalny mais longe
Alexei Navalny já conquista milhões de seguidores russos nas redes sociais, a maioria jovens, o que impulsionou a candidatura de alguns de seus apoiadores para conselhos locais na Sibéria, em 2020. Seu público reproduz a mensagem de que a Rússia Unida, partido de Putin, “suga o sangue a Rússia” por meio de um “Estado feudal” que concentra o poder no Kremlin. “A Rússia czarista continua”, dizem.
Erros do passado, como o que Navalny emite comentários xenófobos em vídeos de 2007, têm dado lugar a apelos por sua libertação. À época, o político comparou o conflito étnico a uma cárie dentária e comparou os imigrantes às baratas. Ele também defendeu que a península ucraniana da Crimeia “pertence de fato à Rússia”, apesar da condenação internacional pela anexação unilateral da região em 2014.
Agora, o deteriorado estado de saúde do político tem servido como impulso para sua imagem pública perante o mundo em meio a pedidos de libertação feitos por entidades internacionais.
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