Ataques de políticos e da imprensa da Ucrânia levantaram uma onda de descrédito às vacinas contra a Covid-19 fabricadas na Índia. Apesar de as doses serem as únicas disponíveis no país, uma parcela dos ucranianos está relutante em se vacinar, disse a BBC.
As reclamações começaram disfarçadas de preocupação com a eficácia e a segurança das doses. Logo, porém, se transformaram em acusações sobre “experimentos em ucranianos” e “vacina para pobres”.
Nas redes sociais ucranianas, memes indicam que quem for vacinado com as doses CoviShield, desenvolvidas pela AstraZeneca/Oxford e fabricadas pelo Instituto Serum, da Índia, se parecerá com “os índios”, em tom pejorativo.
“Essas doses só foram para o Butão, Maldivas, Bangladesh, Nepal, Mianmar, Seychelles e para cá [Ucrânia]. Como podemos ver, não é uma lista de grandes países”, disse o analista Vitaliy Portnikov ao questionar porque países da UE (União Europeia) não adquiriram as doses.
A confiança sobre as vacinas é baixa mesmo entre os profissionais da saúde, grupo prioritário na campanha de imunização. Em um hospital de Kiev, apenas dois dos 24 funcionários na linha de frente da Covid-19 aceitaram ser vacinados.
A opinião geral é de que as doses fabricadas na Índia possuem uma qualidade “comparativamente inferior”. “A qualidade é importante”, disse a líder do partido de centro-direita Pátria, Yuliya Tymoshenko. “Agora estamos pegando em todo o mundo o que ninguém quer usar”.
A vacinação com a AstraZeneca chegou a ser suspensa em alguns países da Europa após registros de trombose venosa e embolia pulmonar no início da semana. A farmacêutica britânica realiza testes para averiguar o que pode ter gerado os problemas – mas não há indício de relação com o instituto indiano.
Atrasos minaram confiança
A Ucrânia foi um dos últimos países a adquirir a vacina contra a Covid-19 e iniciar uma campanha de vacinação. Cerca de 10 mil pessoas foram imunizadas desde o dia 24 de fevereiro.
Kiev chegou a assinar um acordo para comprar as doses da chinesa Sinovac, mas as remessas ainda não chegaram à Ucrânia. A entrega das vacinas da Pfizer através da iniciativa Covax também parou, o que fez com que as primeiras doses disponíveis no país fossem as fabricadas na Índia.
A falta de transparência no processo contribuem para a desconfiança no processo, dizem os comentaristas. “O governo tornou os esquemas de entrega tão obscuros que as pessoas passaram a consumir desinformação como nunca antes”, disse a jornalista Maryana Pyetsukh.
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